segunda-feira, 12 de maio de 2014
Chefe, precisamos de mentiras novas #26
«Concepção científica do acaso: cada atitude, gesto, sonho (pessoais), são envolvidos pelo esquema mecânico imediato, este por um esquema maior (e mais longínquo) etc. De salto para salto, não há análise possível (senão parcelar e confusa). Fútil (sobretudo) debater as possibilidades, a própria existência, do grande operário que ordena (ou alimenta as ordens doutro) este esquema. E o outro às ordens de quem?
Por similitude, o carácter transforma-se num hábito, numa engrenagem. Livre arbítrio? Imaginação? Actos absorvidos em cadeias de actos, postos ao serviço de quê? Há, no entanto, certa aresta quase visível do problema: julga que progresso e acasos se confundem (nela). Como finalidade, não; apenas porque o mecanismo histórico é assim, e a sua natureza intrinsecamente moral (apesar de tanta circunstância perversa). Quanto ao resto, quem quiser perder tempo...»
Carlos de Oliveira, "Finisterra", Sá da Costa, 1984
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