quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Por vocações de Leitura #1


Cesárea Bolaño

Veronika Coelho

Kitty Auster

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Imediatamente embora pouco a pouco #9



«No espanto desenhado da palavras azuis, há ocasiões em que paro, a meio de escrever, e me apavoro. Eu: que escrevi, porque escrevi.
Quem sou eu para me revirar e jogar isso num papel a caminho de outra gente? Quem sou eu (repito) para ensopar na tinta que sou as coisas que me furam?
Olho, penso, não acho resposta. "Nem que sim nem que não", diz assobiadamente o silêncio de tudo e todos a este respeito.
Encolho-me. Ninguém dá por mim (a própria cigarra que grita terá do que se está a passar uma suspeita leve e breve).
Quite em tudo que não seja o braço, mexidamente direito, e o sangue e o respirar, volto ao papel. O Tempo: é como chuva. E em qualquer sítio uma qualquer porta atrás de que pode estar alguém.»

Nuno Bragança, "A Noite e o Riso", Obra Completa, Dom Quixote, 2009

domingo, 23 de janeiro de 2011

espécie de oração particular #7



«Enterrei hoje minha mulher - porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira. Levá-la para o cemitério, e como? Fica longe. Ela pedira-mo uma vez, inesperadamente, acordando-me a meio da noite. Queria que a enterrasse junto ao muro que dá para o caminho, porque se vê daí a casa dela. Habituara-se a olhar para aquele sítio depois que ficou só. E pensava: "Verei dali a janela do meu quarto." Mas teria de transportá-la para lá. Não tenho forças e cai neve. A quantos estamos? É Inverno, Dezembro, talvez, ou Janeiro. Tiro a neve com uma pá, traço o rectângulo e cavo.»

Vergílio Ferreira, "Alegria Breve", Bertrand, 2004

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Teoria da Conspiração #21 (ou a Parafina do Éden)



«Naquele tempo, costumava levar gelo à Nina Simone. Era sempre simpática comigo. Tratava-me sempre por "Queriiido". Levava-lhe uma bandeja cinzenta cheia de gelo, para ela pôr no Whisky.

Ela descascava a cabeleira loura e atirava-a para o chão. Por debaixo da cabeleira, o seu cabelo verdadeiro era miudinho, como o pêlo de um cordeiro negro tosquiado. Descascava as pestanas postiças e colava-as ao espelho. As pálpebras eram salientes. Pintava-as de azul. Faziam-me sempre pensar numa dessas rainhas egípcias, como as que eu tinha visto na National Geographic. A sua pele brilhava de molhada. Enrolava uma toalha azul à volta do pescoço e depois inclinava-se para a frente, descansando os cotovelos sobre os joelhos. O suor rolava-lhe pela cara abaixo, salpicando o chão vermelho de cimento, entre os seus pés.

Habitualmente acabava o espectáculo com a canção "Jenny The Pirate", de Bertolt Brecht. Cantava sempre esta canção como se se tratasse de uma vingança sua, muito profunda, como se tivesse sido ela própria a autora do poema. A sua actuação era como um tiro, que alvejava, primeiro, a garganta de uma audiência branca. Depois, o coração. Finalmente, a cabeça. Nesses tempos, ela disparava a matar.

A canção do seu espectáculo que realmente me punha fora de mim era "Que bom era ter-te à minha espera". Sempre que a cantava, eu ficava assombrado, hipnotizado. Andava a recolher copos de Whiskey Sour quanto ela atacava aquele piano, que desabava sobre nós, retumbante, com a sua voz fantasmagórica, serpenteando através do amontoado das cordas. Os meus olhos subiam para o palco e por lá ficavam, enquanto as minhas mãos continuavam a trabalhar.

Uma vez, estava ela a cantar essa canção, derrubei uma vela. A cera quente espirrou para cima do fato de um homem de negócios, sujando-o todo. Fui chamado ao escritório do gerente. O homem lá estava, com os salpicos de cera quente espalhados pelas calças abaixo. Parecia que se tinha vindo para cima do fato. Nessa noite, fui despedido.
Lá fora, na rua, ainda podia ouvir a sua voz atravessando as paredes: "Seria o paraíso, ter-te à minha espera".»

Sam Shepard, "Crónicas Americanas", Difel, 2002

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

a vida não é um sonho #7



«Ela falava, falava, falava. Falava pelos cotovelos. Eu sou a dona da casa. E essa empregada gorda só sabia falar, falar, falar. Onde quer que eu estivesse, lá estava ela, chegava e começava a falar. De tudo e de nada, disto e daquilo, para ela tanto fazia. Despedi-la por causa disso? Teria que lhe dar três meses de indeminização. Ainda por cima, seria bem capaz de me rogar uma praga. Até na casa de banho: e para aqui e para acolá, e frito e cozido. Espetei-lhe o garfo na boca para que se calasse. Não morreu por causa disso, mas por já não poder falar: as palavras explodiram no interior.»

Max Aub, "Crimes eXemplares", Antígona, 2001

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Orelhas de Elefante #16


Porque há musicas de outras dimensões.



Destroyer, "Kaputt", Merge Records, 2011


«O que é preciso é reinventar o começo, ocupar o espaço da inquietação.»
Vergílio Ferreira

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

esquece tudo o que te disse #13





«O que acho que está bem é uma pessoa poder ver de certa maneira e outra de uma maneira completamente diferente»
Pina Bausch

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011