quinta-feira, 31 de março de 2011

Perguntas Abandonadas #10


«O ser é suspeito. O que dizer então da "vida", que consiste no desvio e no envilecimento do ser?»

E. M. Cioran (1911-1995)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Orelhas de Elefante #17

para rapariguinhas maduras


June Tabor, "Ashore", Topic Records, 2011

para meninos crescidos


Bill Callahan, "Apocalypse", Drag City, 2011


Porque há musicas de outras dimensões.

«Toda a atracção acontece mediante estímulo. Tudo o que nos excita, atrai-nos.»
Novalis

terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

teoria da Conspiração #22 (ou a Trama Broncodilatadora)



«- Serias um amor, querida Chloé, se as tomasses!
- Eu bem quero - disse Chloé - mas tens de me beijar.
- Combinado - disse Colin. - Não ficas aborrecida por beijares um marido desprezível como eu?...
- É verdade que não és bonito - disse Chloé, arreliadora.
- Não tenho culpa.
Colin baixou o nariz.
- Não durmo o bastante - continuou.
- Beija-me, Colin querido, sou muito má. Dá-me duas pílulas.
- És louca - disse Colin. - Só uma. Vá, engole...
Chloé fechou os olhos, empalideceu e levou a mão ao peito.
- Já está - disse com esforço. - Vai recomeçar...»

Boris Vian, "A Espuma dos Dias", Relógio d'Água, 2001

domingo, 27 de março de 2011

a temperatura do corpo #6



«
Comecei a perceber mais profundamente do que alguma vez se conhecera antes, a tremenda imaterialidade, a brumosa transitoriedade deste corpo aparentemente tão sólido com que andamos ataviados. Descobri que certos agentes têm o poder de abalar e repuxar essa vestimenta carnal, do mesmo modo que um vento afasta as cortinas de um pavilhão. Não entrarei muito nesse ramo científico da minha confissão, e isto por duas razões. Primeiro, porque fui levado a entender que o fado e o fardo da nossa vida serão para sempre carregados sobre os ombros do homem, e que quando se tenta pô-los de parte, limitam-se a regressar sobre nós com uma pressão ainda mais anormal e mais terrível. Depois porque, como a minha narrativa infelizmente há-de tornar demasiado evidente, as minhas descobertas estavam incompletas. Bastou, então, que eu não apenas reconhecesse o meu corpo natural pela mera aura e esplendor de alguns dos poderes que formavam o meu espírito, mas conseguisse compor uma droga com a qual esses poderes fossem destronados da sua supremacia, substituída por uma segunda forma e semblante, apesar de tudo naturais em mim dado serem a expressão, e carregarem o selo, dos elementos mais baixos da minha alma.»

Robert Louis Stevenson, "O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde e outros contos", Assírio & Alvim, 2007

segunda-feira, 21 de março de 2011

a poesia não me interessa #22


«A boca de uma rapariga que tinha jazido muito tempo entre canaviais
estava toda roída.
Quando lhe abriram o peito, o esófago estava todo esburacado.
Finalmente, num recanto sob o diafragma,
encontraram um ninho de jovens ratazanas.
Um dos irmãozinhos estava morto.
Os outros viviam de fígado e de rins,
bebiam o sangue frio, e aqui
tinham passado uma bela juventude.
Bela e rápida foi também a sua morte:
Lançaram-nos todos à água.
Ah, como os pequenos focinhos chiavam!»


Gottfried Benn in "A Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas", selecção e tradução de João Barrento, Relógio D' Água, 2001

quinta-feira, 3 de março de 2011

o homem de quarta-feira #38



«hoje
graças ao progresso
já não é verdade que
a pobreza
seja uma doença incurável»

Alberto Pimenta, "Ainda há Muito para Fazer", &etc, 1998