«O homem que está apaixonado encontra um búzio na margem. Quando o leva ao ouvido, não ouve o mar, nem o vento, nem os anjos, mas só a sua própria voz cantando: amo-te. Nunca ouvira nada tão belo.
Na outra margem, todos os homens dormem. Alguém caminha lentamente ao longo da praia, leva-os um a um ao ouvido, escuta. Nalguns desses búzios humanos ouve cães a ladrar, noutros tigres rugir na imensidão ou então martelos a ressoar, e noutros ainda crescer o crescer das máquinas. Mas num deles ouve ecoar o grito de um peixe. É o som que faz o homem que está apaixonado quando alguém o leva ao ouvido.
Se os planetas pudessem amar, deixariam a sua órbita e provocariam o caos. A salvação do mundo deve-se ao facto de o amor ser impossível. O homem que está apaixonado adivinha, também ele sabe, que o amor é gémeo da morte. Mas isso não o impede, a ele que é prisioneiro do seu destino, de entrar de rompante na cela do seu vizinho gritando de alegria: sou livre!
Stig Dagerman
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