sexta-feira, 21 de junho de 2013

o Mal-estar da Civilização #38


«Não esqueçamos que o progresso é um objectivo facultativo, não um compromisso incondicional, e que o seu ritmo, por compulsivo que possa vir a tornar-se, nada tem de sagrado. Lembremos também que um progresso mais lento na conquista da doença não ameaçaria a sociedade, angustiante como é para aqueles que têm a deplorar o facto de que a sua própria doença ainda não tenha sido vencida, mas essa mesma sociedade ficaria de facto ameaçada pela erosão daqueles valores morais cuja perda, talvez causada por uma busca implacável do progresso científico, faria com que os seus mais deslumbrantes triunfos não valessem a pena. Lembremos enfim que o progresso não pode ter por meta abolir a condição da mortalidade. De um ou de outro mal, cada um de nós morrerá. A nossa condição mortal recai sobre nós com a sua crueldade mas também com a sua sabedoria - porque sem ela não haveria a promessa eternamente renovada da frescura, da imediatez e da sofreguidão da juventude; nem existiria para nenhum de nós incentivo para contarmos os nossos dias e fazer com que valham a pena. Com todo o denodo que pomos em arrebatar o que pudermos à nossa mortalidade, deveríamos suportar-lhe o fardo com paciência e dignidade» 

Hans Jonas, "Ética, Medicina e Técnica", Vega, 1994

1 comentário:

Th.M. disse...

«Com todo o denodo que pomos em arrebatar o que pudermos à nossa mortalidade, deveríamos suportar-lhe o fardo com paciência e dignidade.»
(fim de citação)

Um tal suporte supõe um sentido para a vida. Apoiado neste "sentido", reconhece-se na mortalidade um limite, mas não uma fatalidade. E isso é o que nos permite viver com paciência (isto é, serenos, confiantes) e dignidade (isto é, valorizados, felizes).