quarta-feira, 19 de setembro de 2012
diário dos mesmos pesares #18
«A história é simples. Conta-se em poucas palavras. Mas é tão poética na sua aparência externa que mais parece ficção que realidade. O jovem a que me refiro sabia que ia morrer dentro de meia dúzia de dias. Apesar disso, quando falei com ele, mostrou-se alegre. "Agradeço ao destino o ter-me ferido tão duramente", disse-me ele textualmente, "porque a minha vida anterior, a minha vida burguesa, era demasiado cómoda, e as minhas ambições espirituais, mesquinhas".
Nos últimos dias, concentrava-se cada vez mais em si próprio: "Essa árvore", disse-me ele apontado através da janela do barracão, "é o único amigo que tenho no meio da minha solidão". Havia realmente fora da barraca um castanheiro em flor, que nós podíamos ver da tarimba. "Às vezes, falo com ela", acrescentou.
Confesso que não sabia como interpretar as suas palavras. Estaria ele a delirar ou com alucinações? Movido pela curiosidade, perguntei-lhe se a árvore também falava com ele. "Sim." "E que é que lhe diz?" E ele responde-me: "Diz-me assim: "Estou aqui - estou aqui; eu sou a vida"...»
Viktor Frankl, "Um psicólogo no campo de concentração", Nova Vega, 2008
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