quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A vida não é um sonho #32


«Imagine-se um indivíduo por natureza e infortúnio propenso a um sombrio desalento, haverá tarefa mais apta a aumentar-lhe aquele, que o manuseio constante dessas cartas perdidas, preparando-as para as chamas? É que elas são queimadas, anualmente, às carradas. Por vezes, de entre as folhas dobradas, o pálido funcionário retira uma anel - o dedo ao qual se destinava talvez que apodreça já no túmulo; uma nota de banco enviada rapidamente, por caridade - aquele a quem ela iria socorrer, já não come nem tem fome; perdão para os que morreram sem a ter, a boa nova para quantos morreram opressos por fatais calamidades. Recados de vida, estas cartas correm para a morte.»

Herman Melville, "Bartleby", Assírio & Alvim, 1988

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