segunda-feira, 9 de setembro de 2013

a temperatura do corpo #30


«o que os humanos mais amam não é susceptível de ser reconhecido.
O que reina é sempre o que se perdeu.
O que devora o homem é sempre o amor que sentiu quando ignorava a sua natureza. Esse amor é irreconhecível porque está imbuído de um mundo cujo reinado teve lugar antes da desunião do nascimento. Laço de antes da linguagem adquirida nos lábios daquela que deixa de estar unida e que já é a mãe que desfaz o laço. Unidade que diverge no acesso à luz para o olhar e pela transformação do corpo devida ao ar que se respira. Olhos que vêm e voz que clama dilacerando-se, dividindo a alma, destruindo a ressonância antiga, obscura.»

Pascal Quignard, "Histórias de Amor de Outros Tempos, Retratos Vivos", Edições Cotovia, 2002

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