sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

K, o elemento estranho da tabela literária #5


«"Não sei", gritei eu sem ser ouvido por ninguém. "Não sei. Se ninguém vier, olha... Não fiz mal a ninguém, ninguém me fez mal a mim, mas também ninguém me vem ajudar. Um bando de gente nenhuma. Bem, não é verdade. Só que ninguém me vem ajudar - um bando de gente nenhuma, por outro lado, era óptimo. Adorava ir num passeio de gente nenhuma - e porque não? Num passeio às montanhas, como é obvio. Olha a gente nenhuma a acotovelar-se, com os braços levantados, os seus muitos pés caminham todos juntos! E vestidos a rigor, pois então! Lá seguimos alegremente, enquanto o vento vai soprando em volta e por entre as frestas que os nossos corpos desenham. As nossas gargantas exultam! Nem sei como não começamos a cantar!"»

Franz Kafka, "Contos", Cavalo de Ferro, 2004

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