segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
domingo, 23 de dezembro de 2012
Toda a humilhação leva à morte #17
«A solidão da obra – a obra de arte, a obra literária – desvenda-nos uma solidão mais essencial. Exclui o isolamento complacente do individualismo, ignora a busca da diferença; não se dissipa o fato de sustentar uma relação viril numa tarefa que cobre toda a extensão dominada do dia. Aquele que escreve a obra é apartado, aquele que a escreveu é dispensado. Aquele que é dispensado, por outro lado, ignora-o. Essa ignorância preserva-o, diverte-o, na medida em que o autoriza a perseverar.»
Maurice Blanchot, "O espaço literário", Rocco, 1987
sábado, 22 de dezembro de 2012
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
o Mal-estar da Civilização #33
«Nunca viste uma criança conduzindo um carrito de mão, a descer uma encosta? Ela o guia; mas, se o abandona à inércia, será imediatamente arrastada. Assim é a civilização. Ela compõe-se dum conjunto de instrumentos de acção humana, ela é mesmo o depósito da cooperação social; mas se o espírito criador adormece, será o conflito social, a escravidão do fim humano aos meios materiais. Tudo isto é, no plano prático imediato, a repetição do que aconteceu no longínquo plano metafísico. O homem abandonou os instrumentos da sua acção cósmica, do poder criador que os gerou; eles o irão governar e toda a sua vida, perdendo o significado metafísico, o valor total, será dispersa em fragmentos de fingida realidade, pálido arremedo do seu maciço ser de liberdade.»
Leonardo Coimbra, "Obras de Leonardo Coimbra I", Lello & Irmão - Editores, 1983
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Teoria da Conspiração #40 (ou o universo que está em jogo)
«Há em mim qualquer coisa de fundamental que me impede de jogar, seja no que for; não é um raciocínio, ou, pelo menos, eu não o sinto como tal; é um impulso, um instinto, uma estrutura e creio que poderíamos discutir indefinidamente sobre se essa estrutura é também uma estrutura do mundo ou se é apenas uma estrutura minha, particular; é, por exemplo, particular, no sentido de que você a não tem, ou ainda a não tem: você é ainda uma solução, não sei em que sistema cristalizará. Mas pode não ser uma estrutura particular minha no sentido de que adiro por aí às raízes do mundo; quer dizer: penso sempre, porque o mundo pensa, não jogo porque na essência do universo não há jogos. Mas então porque joga você? O não haver jogo essencial no universo não quer dizer que não haja jogos aparentes; estamos aqui como em física nas leis estatísticas, ou como nas simetrias dos cristais, apenas aparente, porque o átomo, base fundamental, é, por ser um fenómeno, assimétrico.»
Agostinho da Silva, "Textos e Ensaios Filosóficos I", Âncora Editora, 1999
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
espécie de oração particular #22
«Que quero, pois? – Inspirar-te o desejo de soltares amarras, de fugir do porto, de te aventurares – se pertences à espécie dos que vieram ao mundo para singrar no oceano da procura livre, entre as rajadas das opiniões, com o horizonte limpo a todos os rumos e aberto à audácia da investigação.»
António Sérgio, "Ensaios - tomo II", Publicações Europa-América, 1954
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
domingo, 16 de dezembro de 2012
alegações finais #8
«Ao homem que, baseando-se neste relato, invente uma máquina capaz de reunir as presenças desconjuntadas, farei uma súplica: procure-nos a Faustine e a mim, faça-me entrar no céu da consciência de Faustine. Será um acto piedoso.»
Adolfo Bioy Casares, "A Invenção de Morel", Antígona, 2003
sábado, 15 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
a poesia não me interessa #39
Se algo te envolve múrmuro, impalpável,
tal como neste muro o esplendor
das glicínias, é a hora dessa dor
de tu não seres riqueza inesgotável,
nem como as flores ou como a luz que avança
em raios, transformando-se, e agindo
em similares imagens todas vindo
e que uma só embriaguez entrança,
um só veludo aonde as coisas jazem
assim torrenciais e tão inteiras,
param as horas, traçam as fronteiras
e nessa angústia nada fazem.
Gottfried Benn, "50 poemas", Relógio D'Água, 1998
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Ela tem os teus olhos #6
«É possível chegar-se a todos nós ao mesmo tempo, de noite ou de dia, de uma fonte de informação centralizada. É o que, de facto, acontece. Todos os dias, uma mão-cheia de pessoas fala e o resto escuta. Os meios cruéis e violentos para limitar a consciência, a experiência e o comportamento pertencem ao passado. Em muitos aspectos, a televisão torna desnecessários os golpes de Estado e as detenções em massa da minha imaginação. Podemos começar a perceber a irrelevância de tais actos, agora que um golpe mais subtil se aproxima.
Dá-se directamente no espírito, na percepção e nos modelos sociais de cada indivíduo. Um instrumento tecnológico torna-o possível, e talvez inevitável, enquanto impede a consciência de reparar no que está a acontecer.»
Jerry Mander, "Quatro Argumentos Para Acabar com a Televisão", Antígona, 1999
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
o homem de quarta-feira #44
«Diz-me uma coisa: não seria o cúmulo da estupidez pensar que uma candeia apagada está em pior situação do que antes de ter sido acesa? Connosco passa-se o mesmo: somos apagados, tal como somos acesos! Durante o período intermédio podemos conhecer algum sofrimento, mas para lá dos dois pontos limite gozamos de grande tranquilidade. Se estou a ver bem a questão, meu caro Lucílio, o nosso erro consiste em pensar que só há morte a seguir a nós, quando a "morte" tanto é o período de tempo que nos precedeu como aquele que nos seguirá. A morte é todo o tempo que decorreu antes de nós; que diferença faz, portanto que não iniciemos ou que abandonemos a existência, se em ambos os casos o resultado é o mesmo, isto é, o "não ser"?»
Séneca, "Cartas a Lucílio", Fundação Calouste Gulbenkian, 2004
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
Inaugurar sentimentos, o amor por vir #5
«Concede-me, enquanto o fazes, o som de uma voz humana e diz: Vais ver que belo embrulho vou fazer de ti e como te vais sentir lindamente depois do tratamento que te espera. Lisonjeia-me, que a mordaça me fica tão bem, que me vais deixar assim amordaçada no mínimo 5-6 horas, menos do que isso nem pensar. Ata-me fortemente com um cordel os tornozelos envoltos em meias de vidro com tanta força como os pulsos, peco-te, e prende uma à outra, sem que para isso te dê permissão, as coxas até lá acima, e ainda mais alto, com o cordel. Vamos experimentar.»
Elfriede Jelinek, "A Pianista", Edições Asa, 2004
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domingo, 9 de dezembro de 2012
ninguém é filho das ervas #12
«Jamais je n'ai senti, si avant, à la fois mon détachement de moi-même et ma présence au monde»
Albert Camus
sábado, 8 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Imediatamente embora pouco a pouco #26
«Da excitação, a garganta ficara-lhe tão seca que bateu palmas e pediu outra bebida. "Meu Deus", continuou depois de humedecido o palato, "e a pensar que um homem poder armar tais ratoeiras a si próprio! Hoje muito feliz, amanhã miserável. Que idiota! Que grande idiota me saí! Bem", raciocinou com outra lucidez, "uma coisa compreendo agora - a minha felicidade era real mas sem fundamento. Preciso de a reconquistar, desta vez com toda a honestidade. E agarrar-me a ela com ambas as mãos, como se fosse um jóia. Aprender a ser feliz por mim próprio, Augusto, como palhaço que sou."»
Henry Miller, "O Sorriso aos Pés da Escada", Edições Asa, 2000
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
diário dos mesmos pesares #22
«Tudo o que é preparado, está pré-parado, imóvel ainda antes de existir. O acaso não; o acaso pré-move-se: antes de acontecer uma dessas reuniões com o acaso, este já se movimenta algures num sítio não visível. O acaso pré-move-se, não se prepara.»
Gonçalo M. Tavares, "Breves Notas sobre as Ligações (Llansol, Molder, Zambrano)", Relógio d'Água, 2009
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
Retrato de Família #22
Ezra P. Karamazov (1885-1972)
«O que amas de verdade / Eis a tua herança verdadeira / O que amas de verdade / Não te será negado»
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Dicionário das causalidades #18
S
Significativos
«Citar um filme não é o mesmo que citar um livro. Enquanto que o tempo de leitura de um livro depende do leitor, o tempo de visão de um filme é estabelecido pelo realizador e as imagens são percebidas com a lentidão ou rapidez que a montagem permitir. Assim, a fotografia, que possibilita que nos detenhamos num único momento o tempo que desejarmos, contradiz a própria forma do filme, tal como uma série de fotografias que imobiliza momentos numa vida ou numa sociedade contradiz uma forma que é um processo, um fluxo temporal. O mundo fotografado mantém com o mundo real a mesma relação, essencialmente inexacta, que as fotografias mantem com o cinema. A vida não é feita de detalhes significativos subitamente iluminados e fixados para sempre. A fotografia sim.»
Susan Sontag, "Ensaios sobre Fotografia", Quetzal, 2012
domingo, 2 de dezembro de 2012
K, o elemento estranho da tabela literária #4
«Eu era rígido e frio, eu era uma ponte, eu estava sobre uma ravina, Os meus dedos dos pés num lado, os meus dedos das mãos no outro, seguros com toda a força à terra solta. As bordas do meu casaco dançavam no vento a meu lado. Bem lá em baixo, revolteava o curso de água gelada. Nenhum turista se atrevia a vir cá acima, a ponte não vinha sequer em nenhum mapa. E assim eu ficava estendido e esperava. Uma vez lançada, nenhuma ponte, a menos que caia, deixa de ser ponte.
Certa tarde - a primeira ou a milésima, não sei - tinha as ideias em perpétua confusão e movimento... mas foi numa tarde de Verão, quando o troar da corrente se tornara mais profundo, que eu ouvi um passo humano! Na minha direcção, na minha! põe-te direita, ponte, preparem-se, vigas, para segurar o passageiro que vos foi confiado. Se os seus passos forem incertos, segurem-nos discretamente, mas se ele escorregar mostrem do que são feitos e, como um deus das montanhas, empurrem-no para terra.
Ele chegou, testou-me com a ponta de ferro do bordão e levantou-me as asas do casaco, pondo-as no sítio. Mergulhou depois a ponta do seu bordão no meu cabelo farto e deixou-se ficar por ali a olhar esgazeado em volta, por certo esquecido de mim. Foi então que - estando eu com ele em pensamentos, sobre montanhas e vales - saltou a pés juntos do meio do meu corpo. Fiquei a tremer de dor, sem perceber o que se tinha passado. Quem era ele? Uma criança? Um viajante? Um suicida? Voltei-me então para o ver. Onde é que já se viu uma ponte a voltar-se! Ainda não me tinha voltado completamente e já começava a cair, caí e, em poucos segundos, fui desfeito em pedaços pelas rochas duras que sempre me haviam olhado pacificamente, da corrente, lá em baixo.»
Franz Kafka, "Contos", Cavalo de Ferro, 2004
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sábado, 1 de dezembro de 2012
ninguém é filho das ervas #11
«Estou convencida de que
faz parte integrante da vida na terra
sermos magoados
naquilo a que somos mais sensíveis,
no que nos é mais insuportável:
o essencial
é como nos saímos disso.»
Rahel Varnhagen
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