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«Quem esbarra, ao escrever, numa verdade que o acto de escrever não poderia respeitar, talvez seja irresponsável, mas, por maioria de razão, deve responder por essa irresponsabilidade; deve responder por ela sem a pôr em causa, sem a trair, ela é algo de secreto até por si próprio: a inocência que o preserva não lhe pertence: pertence ao lugar que ocupa e que ocupa falivelmente, com o qual não coincide.
Não basta distinguir na vida do artista várias partes irredutíveis. Também não é o seu comportamento que importa, a maneira como se protege com os seus problemas ou como, pelo contrário, os cobre com a sua existência. Cada um responde como pode e como quer. A resposta de um não convém a nenhum outro, é sem utilidade, responde ao que necessariamente ignoramos e, nesse sentido, é indecifrável, nunca exemplar: a arte oferece-nos enigmas mas, felizmente, nenhum herói.»
Maurice Blanchot, "O Livro por Vir", Relógio D'Água, 1984
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