quarta-feira, 21 de novembro de 2012

a temperatura do corpo #21


«Imaginai um dia de cerrado nevoeiro, em que vos fatigais inutilmente na procura dum rosto conhecido, dum sinal que vos oriente, dia em que tudo foge diante de vós, como uma fantasmagoria de mau sonho.
E o informe que se vos furta, que nenhuma relação tem convosco, esfíngico corpo desfeito à aproximação das exigências do tacto.
O Sol espanca a névoa, e, de repente, mostra-vos, em airoso corpo, vigorosas linhas, o sólido mundo da nossa realidade, que a vista contorna, o ouvido escuta e o tacto palpa e empurra. Como ao sair dum pesadelo, é todo um novo mundo de tranquilidade, bem-estar e segurança, que vos sorri. Compreendeis, então, como a geometria é a ossatura do vosso mundo; como ele, sem forma, seria animal sem esqueleto, irradio fantasma fugidio, sem núcleo, sem apoio, inválido e insubsistente.» 

Leonardo Coimbra, "A Alegria, a Dor e a Graça", Grupo de Investigação de Pensamento Português CFUL, 2012  

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