sábado, 20 de outubro de 2012

quero outra noite no fim do dia #11


Todos os dias saio em busca de algo diferente,
     Demandei-o há muito por todos os atalhos destes campos;
Além nos cumes frescos visito as sombras,
     E as fontes; o espírito erra dos cimos para a planície,
Implorando sossego; tal como o animal ferido se refugia nas florestas,
     Onde antes repousava pelo meio-dia à sombra, fora de perigo;
Mas o seu verde abrigo já não lhe dá novas forças,
     O espinho cravado fá-lo gemer e tira-lhe o sono,
De nada servem o calor da luz nem a frescura da noite,
     E em vão mergulha as feridas nas ondas da corrente.
E tal como é inútil à terra oferecer-lhe a agradável
     Erva curativa e nenhum zéfiro consegue estancar o sangue que fermenta,
O mesmo me acontece, caríssimos! Assim parece, e não haverá ninguém
     Que possa aliviar-me da tristeza do meu sonho?

Friedrich Hölderlin, "Elegias", Assírio e Alvim, 1999

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