quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Chefe, precisamos de mentiras novas #11
«Devemos distinguir entre aquilo que sabemos e aquilo de que estamos convencidos. Entre o que se sabe e o que é assimilado pela convicção existe a mesma diferença que entre a criança adoptada e a verdadeira. A convicção é um acto espiritual que se concretiza na obscuridade - uma insinuação secreta e um consenso muito fundo, não se encontra subordinado à vontade.»
Ernst Jünger, "O Coração Aventuroso", Cotovia, 1991
Etiquetas:
Chefe precisamos de mentiras novas
terça-feira, 30 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Teoria da Conspiração #39 (ou a reconstrução da natureza ontológica)
«Quanto mais a minha casa for a minha casa, mais poderei abrir a porta aos vizinhos, ou, só o que sabe e tem garantia do saber, se abre sem temor do saber do outro, porque não corre o risco de sufocar, porque está prevenido contra as hipóteses do pior colonialismo, o colonialismo mental.
O que ambiciona ser ele próprio, e não outro, terá a todo o momento de confluir no impróprio (ou não próprio) e a todo o momento desse impróprio efluir. A total individualidade do ser continuará insularizada, mesmo que participe na mais pura socialidade, enquanto a individualidade pensante for a que a si mesma se pensa, e aos outros em si, jamais renunciando ao princípio de autenticidade: ser existencialmente o retrato de ser mentalmente, na parte de ser que couber a cada um.»
Pinharanda Gomes, "Pensamento e Movimento", Lello & Irmão, 1974
domingo, 28 de outubro de 2012
sábado, 27 de outubro de 2012
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Ela tem os teus olhos #5
«O confinamento em si, o acto de transplantar um animal do seu habitat natural para um mundo reorganizado, no qual as suas habituais técnicas de sobrevivência e satisfação já não funcionam, gera diversos resultados inevitáveis:
1) A sobrevivência do animal passa a depender de quem controla o sistema. O animal usará a sua inteligência para aprender quaisquer novos truques necessários à adaptação a esse sistema. Se isso o obrigar a artimanhas e mudanças para se manter vivo, assim agirá.
2) O animal concentrar-se-á (viciar-se-á) em quaisquer experiência disponíveis no novo sistema.
3) O animal reduzirá, consequentemente, as expectativas físicas e mentais, de forma a adaptar-se ao que lhe é concedido.
Os animais encarcerados cujo comportamento não se adapta a este modelo enlouquecem, revoltam-se ou morrem.»
Jerry Mander, "Quatro Argumentos Para Acabar com a Televisão", Antígona, 1999
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Inaugurar sentimentos, o amor por vir #3
Tobias Schneebaum, "Onde Os Espíritos Vivem", Antígona, 1991
Etiquetas:
Inaugurar sentimentos o amor por vir
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
diário dos mesmos pesares #20
«Surpreende-me e irrita-me - pois pertenço a essa espécie - o humilde contentamento dos humanos. Falam a todo o momento de grandezas - the diggest in the world - e a seguir descobre-se que lhes parece imensa qualquer modesta pequenez. Falta, em absoluto, a todos o senso do gigantesco. Falam como Sansões e agem como o Pequeno Polegar.»
Giovanni Papini, "Gog", Livros do Brasil, 1988
terça-feira, 23 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Imediatamente embora pouco a pouco #24
«Renovar as sensações, quer dizer, procurar a pura impressão actual, colocar a alma em face do mundo, com o possível mínimo de memória e utilitário interesse, é um dever de todo o que quer conhecer os inícios da Beleza, e até do que pretende ser leal para com a Realidade.
(...) Sim. Não é mau desmontar, de vez em quando, os nossos mecanismos de conhecer e sentir.
Quem sabe à custa de quantos inconscientes desprezos da sensibilidade eles foram construídos!»
Leonardo Coimbra, "A Alegria, a Dor e a Graça", Grupo de Investigação de Pensamento Português CFUL, 2012
Etiquetas:
Imediatamente embora pouco a pouco
domingo, 21 de outubro de 2012
Perguntas Abandonadas #23
Mas o que dizer da epilepsia? Uma condenação baseada no exame fetal teria privado a humanidade de um Dostoievsky.
Hans Jonas (1903-1993)
sábado, 20 de outubro de 2012
quero outra noite no fim do dia #11
Todos os dias saio em busca de algo diferente,
Demandei-o há muito por todos os atalhos destes campos;
Além nos cumes frescos visito as sombras,
E as fontes; o espírito erra dos cimos para a planície,
Implorando sossego; tal como o animal ferido se refugia nas florestas,
Onde antes repousava pelo meio-dia à sombra, fora de perigo;
Mas o seu verde abrigo já não lhe dá novas forças,
O espinho cravado fá-lo gemer e tira-lhe o sono,
De nada servem o calor da luz nem a frescura da noite,
E em vão mergulha as feridas nas ondas da corrente.
E tal como é inútil à terra oferecer-lhe a agradável
Erva curativa e nenhum zéfiro consegue estancar o sangue que fermenta,
O mesmo me acontece, caríssimos! Assim parece, e não haverá ninguém
Que possa aliviar-me da tristeza do meu sonho?
Friedrich Hölderlin, "Elegias", Assírio e Alvim, 1999
Etiquetas:
quero outra noite no fim do dia
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
a poesia não me interessa #36
«Não, não, eu não estou aí onde me vigiais, mas aqui onde vos observo, a rir»
Michel Foucault, A Arqueologia do Saber, Edições Almedina, 2005
terça-feira, 16 de outubro de 2012
A vida não é um sonho #24
«Eu conheci a anã da Trajanplatz. Ela tinha mais couro cabeludo que cabelo, era surda-muda e tinha uma trança de erva como as cadeiras reformadas à sombra das amoreiras das pessoas idosas. Alimentava-se do lixo da frutaria. Todos os anos ficava grávida dos homens de Lola, que à meia-noite acabavam o turno da noite. A praça ficava escura. A anã não conseguia fugir a tempo, porque não podia ouvir ninguém a aproximar-se. E não podia gritar.»
Herta Müller, "A Terra das Ameixas Verdes", Difel, 2009
domingo, 14 de outubro de 2012
Dicionário das causalidades #16
Q
Quê?
«Todos nós somos, por vezes, estúpidos; por vezes também, somos constrangidos a agir cegamente ou semicegamente, sem o que o mundo se deteria; e se alguém retirasse dos perigos da estupidez esta regra: "Abstém-te de julgar e de decidir cada vez que te faltam informações", ficaríamos imobilizados! Mas essa situação hoje muito generalizada, recorda outra que conhecemos há muito, no domínio intelectual. Com efeito, como o nosso saber e o nosso poder são limitados, estamos reduzidos, em todas as ciências, a enunciar juízos prematuros; mas desde que estejamos atentos, como nos ensinaram, para manter este defeito em certos limites e corrigindo-o logo que possível, isso restitui ao nosso trabalho uma certa exactidão. Nada, com efeito, se opõe à possibilidade de transferir para outros domínios esta exactidão e esta orgulhosa humildade do juízo e da acção; e eu acredito que o preceito: "Age tão bem como possas e tão mal quanto tem de ser, permanecendo consciente das margens de erro da tua acção!" representa já, no caso de ser seguido, metade do caminho em direcção a uma reforma verdadeiramente fecunda da nossa vida.»
Robert Musil, "Da Estupidez", Relógio D'Água, 1994
sábado, 13 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
ninguém é filho das ervas #8
It is as true to say that God is permanent and the World fluent, as that the World is permanent and God is fluent.
It is as true to say that God is one and the World many, as the world is one and God many.
It is as true to say that, in comparison with the World, God is actual eminently, as that, in comparison with God, the World is actual eminently.
It is as true to say that the World is immanent in God, as that God is immanent in the World.
It is as true to say that God transcends the World, as that the World transcends God.
It is as true to say that God creates the World, as that the World creates God.
Alfred North Whitehead
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
domingo, 7 de outubro de 2012
quero outra noite no fim do dia #10
dualismo Qualquer teoria que postule dois gêneros de coisas num certo domínio dualista. As teorias oposta, de acordo com as quais só há um gênero de coisa, são *monista. O exemplo mais famoso desta operação e o dualismo mentem e corpo, que se opõem ao manismo tanto sobre a forma do *idealismo (apenas mente) como, e mais freqüentemente sob a formada *fisicalismo (apenas corpo ou matéria).
Simon Blackburn, "Dicionário de Filosofia", Gradiva, 1997
Etiquetas:
quero outra noite no fim do dia
sábado, 6 de outubro de 2012
Até hoje foi sempre futuro #2
«não me iludo, a minha vida é a lógica secreta de um caminho único, viagem para aqui, centro do corpo tracejado por deserções, centro do mundo, centro de todas as pátrias, aqui a recordação recorda-me, sou por enquanto o conhecedor solitário da minha história, outros, a partir do crime ainda não cometido, possuirão o meu nome, as minhas confidências, os medos da minha identidade. E encontrar-me-ão. Estarei aqui para me encontrarem. Me dizerem então como me chamo. E sou culpado. Submetido ao sossego linear dos factos.»
Rui Nunes, "Enredos", Edições Rolim, 1987
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Chefe, precisamos de mentiras novas #10
«Se o desejo produz, produz real. Se o desejo é produtor, só o pode ser a realidade e da realidade. O desejo é esse conjunto de sínteses passivas que maquinam os objectos parciais, os fluxos e os corpos, e que funcionam como unidades de produção. O real resulta disso, é o resultado das sínteses passivas do desejo como autoprodução do inconsciente. Ao desejo não falta nada, não lhe falta o seu objecto. É antes o sujeito que falta ao desejo, ou o desejo que não tem sujeito fixo; é sempre a repressão que cria o sujeito fixo. O desejo e o seu objecto são uma só e mesma coisa: a máquina, enquanto máquina de máquina. O desejo é máquina, o objecto do desejo é também máquina conectada, de modo que o produto é extraído do produzir, e qualquer coisa no produto se afasta do produzir, que vai dar ao sujeito nómada e vagabundo um resto.»
Gilles Deleuze e Félix Guattari, "Anti-Édipo — Capitalismo e Esquizofrenia", Assírio & Alvim, 1996
Etiquetas:
Chefe precisamos de mentiras novas
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
a temperatura do corpo #20
«Fôssemos apenas um corpo e seguramente estaríamos em equilíbrio com a natureza.
Mas a nossa alma está do mesmo lado que nós na balança.
Leve ou pesada, não sei.
Memória, imaginação, afectos imediatos tornaram-na mais pesada; todavia temos a palavra (ou qualquer outro meio de expressão); cada palavra que pronunciamos torna-nos mais leves. Na escrita, ela passa mesmo para o outro lado.
Leves ou pesados, não sei de facto, mas precisamos de um contrapeso.»
Francis Ponge, "Alguns poemas", Cotovia, 1996
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Teoria da Conspiração #38 (ou as Confissões à boca cheia)
«Bem vê, senhor, é melhor não contrariar as minhas ideias. Não o tolero. Aceito as suas, unicamente para lhe ser agradável. Guarde-as, rumine-as, digira-as e expulse-as se não lhe agradarem. De uma maneira geral, os homens julgam, desde há dois séculos e mesmo mais, que são os melhores do mundo. O non plus ultra. O.K. É lá com eles. Quanto a mim, estou convencido do contrário, pois somos todos filhos do animal pelo simples facto de sermos homens. Há muito tempo que o homem provou a sua domesticação da natureza à força de irritabilidade, de ingratidão, de instintos assassinos e de golpes, de golpes de cacete, de pedras, de fogo, de machetes e também de crimes impunes e da escravização dos outros. Qualquer homem, pelo simples facto de o ser, é filho da puta. Que os outros não pensem da mesma maneira, nem sequer o discuto. Para mim, o maior dos imbecis - por mais suiço que seja - é Jean Jacques Rousseau. Com as ideias que tenho qual é a admiração por eu ser um gajo porreiro? Que tenham morto o Senhor Jesus, em contrapartida, não é de admirar: não devia um tostão a ninguém.»
Max Aub, "Crimes eXemplares", Antígona, 2001
terça-feira, 2 de outubro de 2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)