segunda-feira, 4 de junho de 2012
Chefe, precisamos de mentiras novas #7
«É bem evidente a vida mesquinha e vil que muitos levam, digo-o porque a experiência me tem aguçado a visão para os que vivem na corda bamba, tentando negócios para escaparem às dívidas - esse antiquíssimo atoleiro a que os latinos chamavam de aes alienum, o cobre alheio, pois algumas das suas moedas eram cunhadas nesse metal -, ainda assim vivendo e morrendo, enterrados pelo dinheiro alheio, sempre prometendo pagar, jurando pagar amanhã e morrendo hoje insolventes; bajulando por favores, angariando fregueses de mil e um modos desde que não redundem em prisão, mentindo, adulando, votando, enredando-se em meia dúzia de palavras corteses ou expandindo-se numa atmosfera de melíflua e vaporosa generosidade a fim de persuadirem o vizinho a deixá-los engraxar-lhe os sapatos, escovarem-lhe o chapéu e casaco, limparem-lhe a carruagem ou levarem-lhe as compras da mercearia; fazendo-se de doentes com vista a economizarem algo para o dia em que estejam de facto doentes, algo a ser guardado numa velha cómoda, armazenado atrás do reboco ou, melhor ainda, na bancada de tijolos, seja onde for, seja muito ou pouco.»
Henry David Thoreau, "Walden ou a Vida Nos Bosques", Antígona, 1999
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