terça-feira, 10 de maio de 2011

Teoria da Conspiração #24 (ou a Lucidez que embala o Berço)



«Começa provavelmente com traumas ou tacteios a que nem sequer se é capaz de dar uma forma verbal: uma separação, uma cena de violência, uma brusca consciência da monotonia do tempo. É com a leitura de livros - não necessariamente filosóficos - que estes choques iniciais se transformam em perguntas e problemas, dão que pensar. O papel das literaturas nacionais pode aqui ser importante. Não é que se aprendam palavras, mas vive-se "a verdadeira vida que está ausente", que, precisamente, não é utópica. Penso que, no grande medo do livresco, se subestima a referência "ontológica" do humano ao livro que se toma como fonte de informações, ou como um "utensílio" para aprender, como um manual, quando é, na verdade, uma modalidade do nosso ser. Com efeito, ler é manter-se acima do realismo - ou da política -, da preocupação por nós mesmos, sem desembocar, contudo, nas boas intenções da nossas belas almas, nem da idealidade normativa do que "deve ser".»

Emmanuel Lévinas, "Ética e Infinito", Edições 70, 2010

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