quarta-feira, 31 de março de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

explicando melhor #1


- Mas afinal vamos lá a saber, quantos anos têm vocês? (não vale responder com o poema do R. Belo) - perguntou xú.

- Detalhe da última encarnação - disse apenas o Irmão Karamazov.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Chamada a pagar no destinatário #4


«This is an alarm-call, So wake-up, wake-up now, Woo-oo-ooh!»

domingo, 28 de março de 2010

Perguntas Abandonadas #6


«Para que é que inscreves nos túmulos a tua "saudade eterna"?»

Vergílio Ferreira (1916-1996)

sábado, 27 de março de 2010

Teoria da Conspiração #14 (ou a Singularidade de uma Mulher só)



«Lugar 1 - nesse lugar havia uma mulher que não queria ter filhos de seu ventre. Pedia aos homens que lhe trouxessem os filhos de suas mulheres para educá-los numa grande casa de um só quarto e de uma só janela; usava um xaile preto junto de seu rosto; tinha uma maneira distante de fazer amor: pelos olhos e pela palavra. Também pelo tempo, pois desde os tempos de sua bisavó, voltar a qualquer época era sempre possível. A mover-se, olhava por vezes com fixidez um sítio o mais belo de sua casa a casa toda porque toda a casa era bela e começava nesse olhar ora o tempo das crianças, ora o tempo dos homens. Mulheres, não havia outra, além dela, nunca ultrapassavam a entrada, que dava para a terra, terra de jardim onde se podiam dar passeios. Os homens ficavam contentes porque ela dizia todas as vezes não és tu que importas, é o seguinte. Certificavam-se, portanto, de que, no momento antes, haviam sido o próximo.»

Maria Gabriela Llansol, "O Livro das Comunidades",
Relógio D'Água, 1999

sexta-feira, 26 de março de 2010

Orelhas de Elefante #13

Investigações Metafísicas
Judee Sill, "Judee Sill", Asylum Records, 1971
Investigações Geométricas
Linda Perhacs, "Parallelograms", Kapp, 1970

Porque há musicas de outras dimensões.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Toda a humilhação leva à morte #9



«Não penetrais suficientemente na intimidade da forma, não a perseguis com suficiente amor e perseverança nos seus desvios e nas suas fugas. A beleza é uma coisa severa e difícil, de modo nenhum se deixa atingir assim: é preciso esperar as suas horas, espiá-la, apertá-la e enlaçá-la estreitamente para a forçar a dar-se.»

Honoré de Balzac, "A Obra Prima Desconhecida", Edições Vendaval, 2002

quarta-feira, 24 de março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

o Mal-estar da Civilização #15



SÓCRATES

Um homem que pratica a ginástica e que faça o estudo desta vai prestar atenção ao elogio, à critica e à opinião de qualquer pessoa ou apenas daquele que é o seu médico ou o seu mestre?

CRÍTON
Apenas à deste

SÓCRATES

Portanto, será apenas deste que deve temer a crítica e não apreciar o elogio, sem se preocupar com a maioria.

CRÍTON
É evidente que sim.

SÓCRATES

Assim, deverá agir, exercitar-se, comer e beber como o decidir o único homem que o dirige e é competente, em vez de seguir o parecer de todos os outros reunidos.

CRÍTON
Isso é indesmentível.

SÓCRATES

Estamos, então, de acordo. Mas se ele desobedecer a esse homem único, se desdenhar a sua opinião e os seus elogios para seguir a opiniões da multidão incompetente, não irá sofrer algum mal?

Platão, "Diálogos III - Críton", Pub. Europa-América, 2ª Edição


segunda-feira, 22 de março de 2010

dedicatória #6*



* dedicado ao Livreiro e seu alter-ego por mais um início de primavera.

domingo, 21 de março de 2010

a poesia não me interessa #16



Se os demais não podes destruir,
destrói-te a ti mesmo. Não, não deixes
que por ti o façam outros. Só tem uma meta
a vida, que é a morte.

Alcança-a tu primeiro que os outros.

Morrer é fácil. A natureza
pôs mil e uma razões na tua mente
que à morte a cada instante te convidam.

Busca dentro de ti e hás-de vê-las.

É sábia a natureza, é boa.
Que te realizes é o que se quer, e totalmente.
Que maximamente alcances teu próprio valor.
A plenitude do ser está na morte.

J. M. Fonollosa, "Cidade do Homem: New York", Antígona, 1993

sábado, 20 de março de 2010

a vida não é um sonho #4



«As manifestações de busca irresponsável e infantil pela satisfação imediata de desejos primitivos e da correspondente incapacidade para se sentir responsável pelo que se situa no futuro ainda longínquo, têm que ver com o facto de que, na base de todas as decisões, reside sub-conscientemente a pergunta angustiosa por quanto tempo vai o mundo ainda durar.»

Konrad Lorenz, "Os Oito Pecados Mortais da Civilização", Litoral Edições, 1992

sexta-feira, 19 de março de 2010

é meia-noite no fim do céu #5



«
Muitas pessoas já tiveram a experiência de transcender, mas podem não se dar conta disso. É uma experiência que se pode ter mesmo antes de adormecer. Está-se acordado, mas experimenta-se uma espécie de queda e, possivelmente, vê-se alguma luz branca e tem-se um pequeno choque de beatitude.»

David Lynch, "Em Busca do Grande Peixe", Estrela Polar, 2008

quinta-feira, 18 de março de 2010

electrocardioTrama #6 (ou a actividade metafórica do coração)



«Pela palavra tornamo-nos livres, livres do momento, da circunstância assediante e instantânea. Mas a palavra não nos recolhe, nem, portanto, nos cria e, pelo contrário, o muito uso que dela fazemos produz sempre uma desagregação; vencemos pela palavra o momento e depois somos vencidos por ele, pela sucessão dos momentos que vão levando consigo o nosso ataque sem nos deixar responder. É uma contínua vitória que, por fim, se converte em derrota.
E dessa derrota, derrota íntima, humana, não de um homem particular, mas do ser humano, nasce a exigência de escrever.
Escreve-se para reconquistar a derrota sofrida sempre que falámos longamente.»

quarta-feira, 17 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Quase nada. Muito.


©Coen,Joel & Ethan;2007

segunda-feira, 15 de março de 2010

Imediatamente embora pouco a pouco #5



«O que é característico da igualdade não é arranjar muito simplesmente uma identidade profunda antropológica, é engendrar uma similitude de essência entre os sexos acompanhada no entanto de um sentimento pessoal de dissemelhança. Somos semelhantes e não-semelhantes, indissociavelmente, sem poder determinar em que reside a diferença antropológica, sem poder fixar nitidamente a linha de partilha. Este o surpreendente destino da igualdade, que nos vota não à similitude, mas à indeterminação, à justaposição intima dos contrários, ao interminável questionamento da identidade sexual.»

Gilles Lipovetsky, "O Império do Efémero", Publicações Dom Quixote, 1989

domingo, 14 de março de 2010

a temperatura do corpo #1



«É isto que explica porque é que o esvaziamento dos gestos corporais nunca pode atingir um "zero de movimento", um "zero de gesto". Se o corpo pode negar o mundo e a representação de si sem se autodestruir, é porque na sua auto-representação alguma coisa lhe escapa.»

José Gil, "Movimento Total – O Corpo e a Dança", Relógio d'Água, 2001

sábado, 13 de março de 2010

Momento Pergaminho #4



«O importante não é a perfeição com a qual conseguimos realizar o que deve provir da vontade, e sim que o que tiver de surgir nesta vida, por mais imperfeito que venha a parecer, seja feito uma vez para que haja um começo!»

Rudolf Steiner, "Arte de Educar baseada na Compreensão do Ser Humano", FEWB, 2005

sexta-feira, 12 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Teoria da Conspiração #13 (ou o cio da terra generosa)



«Tudo o que deres à terra, a terra devolver-te-á mil vezes, disse o homem para a menina que o seguia enquanto ele preparava os carreiros por onde a água haveria de passar. Mil, quantos são mil?, perguntou a menina, espantada no meio da horta que o homem fizera nas traseiras da igreja. O homem deixou o que estava a fazer e agachou-se até ficar à altura da menina. Abre as mãos, estica os dedos. O homem percorreu com os seus os dedos da menina abertos em leque. Imagina que de cada um destes dedinhos nasce uma menina com as mão abertas e os dedos esticados. Como eu? Como tu. As mãos do homem prolongavam as da menina. E que de cada um dos dedos dessas meninas nascem outras meninas de mãos abertas com os dedos esticados. São mil os dedos dessas meninas no dedos das meninas que tu tens nos dedos, disse o homem e sorriu. A menina não tinha a certeza de ter percebido bem mas os olhos dela brilhavam. A menina parecia feliz. Tantos! O homem endireitou-se e foi abrir a água que, rápida, percorreu certinha os carreiros todos. A terra é generosa se a tratares bem, a terra é sempre muito generosa, disse o homem. A terra dá tudo, tudo, tudo?, perguntou a menina. Tudo. Foi nesse instante que a menina decidiu o que havia de fazer.»

(Dulce Maria Cardoso - Desaparecida)

in Contos Policiais, Porto Editora, 2008

quarta-feira, 10 de março de 2010

o homem de quarta-feira #27



«Deus é um fanático pelo cinema que passa os dias em frente a milhões de televisões, assistindo a milhões de filmes realizados por ele próprio. Os argumentos são todos diferentes: cada um conta a vida de cada um de nós. Há alguns que ele gostava de poder alterar e filmar outra vez, mas está velho e cansado para isso. Consta que também tem bastantes problemas com a vista.»

Pedro Serrazina, "Pequenas Estórias Sem Importância”, Cadernos do Campo Alegre, 2006

terça-feira, 9 de março de 2010

retrato de Família #12




Giovanni P. Karamazov (1881–1956)

«Existirá algum jovem e desconhecido amigo que encontrará nestas páginas apressadas alegria e compreensão»

domingo, 7 de março de 2010

é meia-noite no fim do céu #4



«O que é citável de um livro, de um autor? Decerto a sua morte pode ser citável. E, sobretudo, o seu silêncio»

Herberto Helder em carta endereçada a Eduardo Prado Coelho, 1977

sábado, 6 de março de 2010

dicionário das causalidades #3



C

Cidades

«Mesmo em Raissa, cidade triste, corre um fio invisível que liga um ser vivo a outro por um instante e a seguir se desfaz, e depois torna a estender-se entre pontos em movimento desenhando novas rápidas figuras de modo que a cada segundo a cidade infeliz contém uma cidade feliz que nem sequer sabe que existe.»

Italo Calvino, "As Cidades Invisíveis", Editorial Teorema, 2002

sexta-feira, 5 de março de 2010

Teoria da Conspiração #12 (ou a magia do absurdo)



«Vendo bem, nem a última das verdades tem sentido. É o caso da conhecida definição circular de 'livro obsceno', que é aquele tipo de livro que desperta certas ideias no espírito daquele tipo de pessoas nas quais essas ideias são despertadas por esse tipo de livros.»

(Aleister Crowley - Eight Lectures On Yoga)

Alberto Pimenta, "A Magia Que Tira os Pecados do Mundo", Cotovia, 1995

quinta-feira, 4 de março de 2010

o mal-estar da Civilização #14



Na Suécia,

18% da mulheres foram, numa ou noutra ocasião, ameaçadas por um homem

46% das mulheres suecas foram sujeitas a violência por parte de um homem

13% das mulheres suecas foram vítimas de violência sexual agravada fora de um relacionamento sexual

92% das mulheres que foram vítimas de agressão sexual não denunciaram à polícia o incidente violento mais recente


Stieg Larsson, "Os Homens Que Odeiam as Mulheres", Oceanos, 2008

quarta-feira, 3 de março de 2010

o homem de quarta-feira #26



«A minha alma é monstruosamente egoísta: não teria suportado que eu fosse bela.
Falar do físico nas minhas circunstâncias é insensato: trata-se tão clara e evidentemente de outra coisa.
- Ela agrada-lhe fisicamente?
- Acaso quer agradar fisicamente? Nego-me a conceder o direito a uma apreciação assim.
Eu sou eu: e os meus cabelos são - eu, e a minha mão masculina de dedos quadrados é - eu, o meu nariz aquilino - eu. E, exactamente: nem os meus cabelos são eu, nem a minha mão, nem o meu nariz são eu: o meu eu é invisível.
Venerem o invólucro, agraciado pelo sopro divino.
E vão amar - outros corpos!»

Marina Tsvétaïeva, "Indícios Terrestres", Relógio D'Agua, 1995.

terça-feira, 2 de março de 2010

Perguntas Abandonadas #5


«O pó futuro, em que nos havemos de converter, é visível à vista, mas o pó presente, o pó que somos, como poderemos entender essa verdade?»

Padre António Vieira (1608-1697)

segunda-feira, 1 de março de 2010

espécie de oração particular #4



«Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha

(...)»

Renato Russo, "Índios", EMI, 1986