«- Tem-se a impressão de que cada vez que é levado a tomar uma posição, você retira-lhe a importância pela ironia ou pelo sarcasmo.
- Sempre. Porque não acredito nela.
- Mas em que acredita?
- Em nada! A palavra "crença" é um erro também. É como a palavra "julgamento". São dados terríveis sobre os quais o mundo está baseado. Espero que, na Lua, não seja assim?
- Todavia acredita em si?
- Não.
- Nem isso?
- Não acredito na palavra "ser". O conceito ser é uma invenção humana.
- Ama assim tanto as palavras?
- Ah! Sim, as palavras poéticas.
- Ser, é muito poético.
- Não, nem por isso. É um conceito essencial que, na realidade, não existe, no qual não creio, mas muita gente crê ferrenhamente. Não se pode ter a ideia de não acreditar nas palavras "eu sou", não é?
- Qual é a palavra mais poética?»
Marcel Duchamp, “O Engenheiro do Tempo Perdido”, Assírio & Alvim, 2010
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