«A esta perseguição dos tigres se ajuntou outra de piolhos, a qual posto que parecia leve, foi tal que a alguns tirou as vidas, e a todos geralmente pôs em risco de as perderem; porque enquanto andávamos quase nus, trazendo somente vestidos uns farrapos por que nos apareciam as carnes em muitos lugares, ali se criavam tantos, que visivelmente nos comiam sem lhe podermos valer, e conquanto escaldávamos o fato muito amiúde, e o catávamos cada dia três e quatro vezes por ordenança; mas como era praga dada por castigo de nossos erros, nenhuma cousa aproveitava, antes parecia que quanto mais trabalhávamos por os apoquentar, então cresciam em maior quantidade; porque quando cuidávamos que os tínhamos todos mortos, dali a pouco espaço eram outra vez tantos, que com um cavaco os ajuntávamos pelo fato, e os levávamos a queimar ou soterrar, por se não poder matar tanta soma de outra maneira, mas com todos este remédios, a um Duarte Tristão, e outros dous ou três homens fizeram tais gaivas pelas costas e cabeças, que disso claramente faleceram.»
Bernardo Gomes De Brito, "História Trágico-Marítima", Círculo De Leitores, 1994
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