Demasiado só estou no mundo, porém não o bastante
para cada hora consagrar.
Demasiado pequeno sou no mundo, porém não o bastante
para diante de ti como uma coisa estar
obscura e operante.
Quero a minha vontade e quero com minha vontade acompanhar
os caminhos do actuar;
e quero, em tempos de serenar ou de um pouco hesitar,
quando algo se aproximar,
entre os cientes me encontrar
ou a solidão habitar.
Quero ser teu reflexo sempre de corpo intrépido,
e nunca ser cego ou demasiado decrépito
para tua imagem pesada e vacilante suster.
Quero crescer.
Em nenhum lugar quero ficar distorcido,
pois é mentido o que ficar distorcido.
E quero o meu sentido
verdadeiro diante de ti. Quero de mim imagem dar
como o quadro que pude contemplar,
longamente e a curta distância também,
como palavra compreendida,
como minha diária bebida,
como o rosto de minha mãe,
como um barco afinal,
que me pôde transportar
atravessando a tormenta mais mortal.
Rainer Maria Rilke, "O Livro das Horas", Assírio & Alvim, 2009
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