
O Tempo Aprazado 
Vêm aí dias difíceis. 
O tempo até ver aprazado 
assoma no horizonte. 
Em breve terás de atar os sapatos 
e recolher os cães nos casais da lezíria, 
pois as vísceras dos peixes 
arrefeceram ao vento. 
Mortiça arde a luz dos tremoceiros. 
O teu olhar abre caminho no nevoeiro: 
o tempo até ver aprazado 
assoma no horizonte. 
Do outro lado enterra-se-te a amante, 
a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar, 
corta-lhe a palavra, 
impõe-lhe o silêncio, 
acha-a mortal 
e pronta para a despedida 
depois de cada abraço. 
Não olhes em volta. 
Ata os sapatos. 
Recolhe so cães. 
Lança os peixes ao mar. 
Extingue os tremoceiros! 
Vêm aí tempos difíceis. 
Ingeborg Bachmann, "O Tempo Aprazado",  Assírio & Alvim, 1993
 
 
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