sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Corpus Christi Carol #3
Günter Grass, "A Ratazana", Publicações Dom Quixote, 1999
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
dicionário das causalidades #4
D
Destino
«Ó minha vontade, esquina de todas as necessidades, necessidade inteiramente minha,
preserva-me das vitórias mesquinhas!
Ó destino da minha alma, a quem chamo Destino, tu que estás em mim, acima de mim,
preserva-me, reserva-me para um grande destino!
E a tua grandeza suprema, - mostra-te inexorável na vitória. Ai!, quem é que não sucumbe à sua vitória?
Ai!, que olhos não se turvaram no crepúsculo dessa embriaguez? Ai, que pé não tropeçou e não desaprendeu a firmeza, na vitória?
Faz com que esteja um dia pronto e preparado para o grande Meio-Dia; pronto e preparado como o bronze em fusão, como a nuvem que carrega o raio, como o úbere inchado de leite,
preparado para mim próprio e para a minha vontade mais secreta - arco que aspira à flecha,
flecha que aspira à estrela, estrela pronta e madura no seu meio-dia,
ardente e trespassada por uma flecha, desmaiada sob as flechas destruidoras do sol,
ela mesma sol e vontade solar inexorável, pronta a tudo destruir na sua vitória.
Ó vontade, esquina de qualquer necessidade, ó necessidade toda minha,
reserva-me para uma grande e única vitória!
Assim falava Zaratustra.»
Friedrich Nietzche, "Assim Falava Zaratustra", Guimarães Editores, 1964
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Teoria da Conspiração #20 (ou a Educação pela Pedra)
Maria Filomena Molder, "A Imperfeição da Filosofia", Relógio d'Água, 2003
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
a temperatura do corpo #4
Luiz Pacheco, "Comunidade", Contraponto, 1964
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Não respire... (ou leituras em apneia) #2
«Há uma profunda diferença entre a luta para não morrer e a luta para viver. Os homens que lutam para não morrer conservam a sua dignidade, defendem-se ciosamente - todos: homens, mulheres, crianças - , com feroz obstinação. Os homens não dobravam a cerviz. Fugiam para as montanhas, para as florestas, viviam nas cavernas, lutavam como lobos contra os invasores. Lutavam para não morrer. Era uma luta nobre, digna, leal. As mulheres não lançavam o corpo no mercado negro para comprarem bâton, meias de seda, cigarros ou pão. Sofriam a fome, mas não se vendiam. Não vendiam os seus homens ao inimigo. Antes queriam ver os próprios filhos morrer de fome do que venderem-se, que venderem os seus homens. Somente as prostitutas se vendiam ao inimigo. Os povos da Europa, antes da libertação, sofriam com maravilhosa dignidade. Lutavam de cabeça erguida. Lutavam para não morrer. E os homens, quando lutam para não morrer, agarram-se com a força do desespero a tudo o que constitui a parte viva, eterna, da vida humana, a essência, o elemento mais nobre e mais puro da vida: a dignidade, o orgulho, a liberdade da própria consciência. Lutam para salvar a alma.
Mas depois da libertação os homens tiveram de lutar para viver. É uma coisa humilhante, horrível, é uma necessidade vergonhosa lutar para viver. Só para viver. Só para salvar a própria pele. já não é a luta contra a escravidão, a luta pela liberdade, pela dignidade humana, pela honra. É a luta contra a fome, é a luta por um pedaço de pão, por um pouco de lume, por um farrapo para cobrir os filhos, por um pouco de palha onde estender o corpo. Quando os homens lutam para viver, tudo, até uma panela vazia, uma ponta de cigarro, uma casca de laranja, uma côdea de pão seco apanhado no lixo, um osso esburgado, tudo tem para eles um valor enorme, decisivo. Os homens são capazes de todas as velhacarias para viver; de todas as infâmias, de todos os crimes, para viver. Por um pedaço de pão, cada um de nós está pronto a vender a própria mulher, as filhas, a macular a própria mãe, a vender os irmãos e os amigos, a prostituir-se a um outro homem. Está pronto a ajoelhar-se, a arrastar-se pelo chão, a lamber os sapatos de quem pode matar-lhe a fome, a dobrar a cerviz sob o chicote, a limpar, sorrindo, a face onde lhe escarraram. E tem um sorriso humilde, doce, um olhar cheio de uma esperança famélica, bestial, uma esperança espantosa.»
Curzio Malaparte, "A Pele", Edição "Livros do Brasil", 1980
Pode respirar.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
o mal-estar da Civilização #19
«Quero o inumano dentro da pessoa; não, não é perigoso, pois de qualquer modo a pessoa é humana, não é preciso lutar por isso: querer ser humano me soa bonito demais.
Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em "pureza", nossas mãos que são grossas e cheias de palavras.»Clarice Lispector, "A Paixão Segundo G.H.", Relógio D'Água, 2000
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
quero outra noite no fim do dia #3
Vasco Gato, "Rusga", Trama, 2010
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quero outra noite no fim do dia
terça-feira, 2 de novembro de 2010
quero outra noite no fim do dia #2
« - A voz ascende como um membro das suas tramas de sangue.
Desenvolve-se nas noites descentradas»
Herberto Helder
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quero outra noite no fim do dia
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
dançar com os pés do acaso #5 (fim)
terça-feira, 8 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Perguntas Abandonadas #9
«- O que é a família?
- É o acto sexual praticado com um cadáver.
- O que é o surrealismo?
- É a morte dos séculos projectando uma sombra muito longa debaixo da água do sonho.
- O que é a loucura?
- É a base de todas as paisagens.
- O que é o sonho?
- É uma chamada obscurecida pelo recalcamento do desejo.
- O que é a pátria?
- É uma coisa sem solução.
- És mulher?
- Sim.
- Porquê?
- Porque é útil.»
Carlos Calvet (1928-)
Mário Henrique Leiria (1923-1980)
quarta-feira, 2 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Chamada a pagar no destinatário #6
domingo, 30 de maio de 2010
é meia-noite no fim do céu #6
«Não havia a fazer: as mãos, disso tinha ele a impressão horrivelmente clara, caminhava a grandes passadas pelo caminho do gelo definitivo.
E teve então um clarão de génio!
Deitando mão à espingarda, não hesitou em fazer fogo na noite e a disparar uns atrás de outros, meia dúzia de tiros.
Depois disto, aproximando as mãos insensíveis do cano muito quente da arma, sentiu a circulação a restabelecer-se: estava salvo!»
Alphonse Allais, "O Capitão Cap., Editorial Estampa, 1973
sábado, 29 de maio de 2010
a vida não é um sonho #6
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Teoria da Conspiração #19 (ou o Universo é composto de histórias, não de átomos)
«Milhões de anos, milhões de barris. Milhões de dólares. É uma espécie de aprofundamento geopolítico da teoria da relatividade: Energia igual a Miséria e Combustão - ao quadrado, digo, à segunda potência. Continua a fascinar-me a forma como a massa sedimentada é engolida num átomo de ignição. O tempo geológico da Terra desaparece, em chama, no carvão do tempo biológico do Homem. A Física pode destruir o futuro num cogumelo, mas a Geologia e a Química oferecem, numa chaminé azul, o que ainda resta do passado. Passado é o que sobra da acumulação. Não me seguro de fascínio por esta ciência do esbanjamento. E é verdade que resta cada vez menos.»
Pedro Rosa Mendes, "Lenin Oil", Publicações Dom Quixote, 2006.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
diário dos mesmos pesares #5
«A Indústria da Poesia
New Parthenon, 27 de Maio.
Renunciei, há muito, a todas as minhas direcções e participações industriais para comprar a coisa mais cara do Mundo - no sentido económico e moral: a liberdade. Um luxo que não está hoje ao alcance nem mesmo de um simples milionário. Suponho que sou um dos cinco ou seis homens quase livres que vivem na Terra.
Mas, quando alguém se entregou ao vício dos negócios durante tantos anos, é quase impossível conseguir que este não torne a recrudescer. No passado, veio-me o desejo de criar uma pequena indústria, a fim de poder subtrair-me às grandes e pesadas. Queria que fosse absolutamente nova e que não exigisse grande capital.
Ocorreu-me, então, a poesia. Esta espécie de ópio verbal, ministrado em pequenas doses de linhas numeradas, não é, certamente, género de primeira necessidade, mas a verdade é que alguns homens não podem prescindir dele. Ninguém pensou, todavia, a organizar de um modo racional a fabricação de versos. Isso tem sido deixado, sempre, ao capricho da anarquia pessoal. A razão desta negligência reside, provavelmente, no facto de , embora florescente, uma indústria, poética deve dar lucros bastantes modestos, já pela dificuldade - não digo impossibilidade - de adoptar máquinas, já pela escassez de consumo de produtos.
Para mim, não se tratava da questão de dinheiro, mas de curiosidade.»
Giovanni Papini, "Gog", Livros do Brasil, 1988
quarta-feira, 26 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
alegações finais #5
«É rumo à liberdade, rumo à liberdade, o mundo velho tem de ruir, acorda, brisa da manhã.
E é marcar passo e esquerdo direito, esquerdo direito, marchar, marchar, pr'á guerra vamos, cem músicos connosco levamos, com pífaros e tambores, rataplão-plão-plão, direitinhos andam uns, outros entortarão, firme s'aguentam uns, outros caem ao chão, em frente correm alguns, mudos outros se quedarão, rataplão-plão-plão.»
Alfred Döblin, "Berlim Alexanderplatz", Publicações Dom Quixote, 1992
segunda-feira, 24 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
a poesia não me interessa #21
O Tempo Aprazado
Vêm aí dias difíceis.
O tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Em breve terás de atar os sapatos
e recolher os cães nos casais da lezíria,
pois as vísceras dos peixes
arrefeceram ao vento.
Mortiça arde a luz dos tremoceiros.
O teu olhar abre caminho no nevoeiro:
o tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Do outro lado enterra-se-te a amante,
a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar,
corta-lhe a palavra,
impõe-lhe o silêncio,
acha-a mortal
e pronta para a despedida
depois de cada abraço.
Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe so cães.
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros!
Vêm aí tempos difíceis.
Ingeborg Bachmann, "O Tempo Aprazado", Assírio & Alvim, 1993
sábado, 22 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
o Mal-estar da Civilização #18
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Imediatamente embora pouco a pouco #8
«Não digas muitas vezes que tens razão, professor!
Deixa que o aluno o reconheça.
Não puxes de mais pela verdade:
Ela não aguenta.
Ouve quando falas!»
Bertolt Brecht (1898-1956)
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Imediatamente embora pouco a pouco
quarta-feira, 19 de maio de 2010
o homem de quarta-feira #35
- Deixe-me! - disse ele. - Eu não sei quais são as suspeitas que tem contra mim, mas eu estou inocente. - Repetiu: - Claro que eu não sei do que suspeita de mim.
- Aqui não se trata de suspeitar de alguém ou de ser inocente. Peço-lhe que não diga isso outra vez. Somos estranhos; o nosso conhecimento é tão velho como os degraus da igreja são altos. O que aconteceria se começássemos imediatamente a discutir a nossa inocência?
- É exactamente o que eu penso, - disse ele - Já agora o senhor disse "A nossa inocência". Por acaso está a sugerir que se eu tivesse provado a minha inocência, também teria de provar a sua? É isso que quer dizer?»
Franz Kafka, "Descrição de uma Luta", Coisas de Ler, 2004
terça-feira, 18 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
espécie de oração particular #6
«Permitindo-se hoje, não sei por que erro, o acesso ao microfone de um poeta que já foi um desses tais, quero voltar a afirmar a minha ternura pelos jovens tipos sem piedade. Não tenho ilusões nenhumas. Falo para o vazio e no escuro, mas mesmo que o tenha feito só para mim, quero insultar uma vez mais os que insultam.»
Jean Genet, "A Criança Criminosa", hiena editora, 1988
domingo, 16 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Teoria da Conspiração #18 (ou a Solidão mais longe possível)
Samuel Beckett, "O Inominável", Assírio & Alvim, 2002
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Orelhas de Elefante #15
Porque há musicas de outras dimensões.
Bernardo Sassetti Trio - "Motion", Clean Feed, 2010
«Portanto se vai ser uma viagem que essa viagem seja longa
uma viagem verdadeira da qual não se regressa
repetição do mundo original
um diálogo com a natureza uma pergunta sem resposta
um pacto forçado após uma batalha
grande expiação»
Zbigniew Herbert
quinta-feira, 13 de maio de 2010
o combate com o demónio #1
quarta-feira, 12 de maio de 2010
o homem de quarta-feira #34
terça-feira, 11 de maio de 2010
Perguntas Abandonadas #8
«Comer um fruto é fazer entrar em si próprio um belo objecto vivo, estranho, alimentado e favorecido como nós pela terra; é consumar um sacrifício em que nos preferimos às coisas. Nunca trinquei o pão das casernas sem ficar maravilhado por a digestão daquela massa pesada e grosseira poder transformá-la em sangue, em calor, talvez em coragem. Ah! Porque não possui o meu espírito, nos seus melhores dias, mais do que uma parte dos poderes assimiladores de um corpo?»
Marguerite Yourcenar, (1903-1987)
segunda-feira, 10 de maio de 2010
alegações finais #4
«Neste momento, e no limite da noite, soaram apitos. Anunciavam possivelmente partidas para um mundo que me era para sempre indiferente. Pela primeira vez, há muito tempo, pensei na minha mãe. Julguei ter compreendido porque é que, no fim de uma vida, arranjara um "noivo", porque é que fingira recomeçar. Também lá, em redor desse asilo onde as vidas se apagavam, a noite era como uma treva melancólica. Tão perto da morte, a minha mãe deve ter se sentido libertada e pronta a tudo reviver. Ninguém, ninguém tinha o direito de chorar por ela. Também eu me sinto pronto a tudo reviver. Como se esta grande cólera me tivesse limpo do mal, esvaziado da esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu abria-me pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Por o sentir tão parecido comigo, tão fraternal, senti que fora feliz e que ainda o era. Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público na hora de minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio.»
Albert Camus, "O Estrangeiro", Livros do Brasil, 1999
domingo, 9 de maio de 2010
sábado, 8 de maio de 2010
a temperatura do corpo #3
Vladimir Nabokov, "Convite Para Uma Decapitação", Assírio & Alvim, 2006
sexta-feira, 7 de maio de 2010
a poesia não me interessa #20
Até quando estaremos nós à espera do
que nos é devido... E em que curva estenderemos
nossos pobres joelhos para sempre! Até quando
a cruz que nos anima não deterá seus remos.
Até quando a Dúvida nos oferecerá brasões
por ter sofrido... Já nos termos sentado
muito à mesa, com a amargura de um menino
que a meio da noite chora, insone, esfomeado...
E quando nos veremos com os outros, à beira
de uma manhã eterna, ninguém já em jejum.
Até quando este vale de lágrimas, para onde
nunca pedi que me trouxessem.
Cotovelos
firmes, banhando em pranto, repito cabisbaixo
e vencido: até quando a ceia durará.
Há alguém que bebeu muito e está a zombar
e se abeira e afasta de nós - como negra colher
de amarga essência humana - o túmulo...
E menos sabe
esse obscuro até quando a ceia durará!
César Vallejo, "Antologia Poética", Relógio D'Água, 1992
quinta-feira, 6 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
o Mal-estar da Civilização #17
Hermann Broch, "Os Sonâmbulos, Vol. III - Huguenau ou o Realismo", Edições 70, 1989
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Teoria da Conspiração #17 (ou a Importância da Surpresa no Ataque)
Enrique Vila-Matas, "Paris Nunca se Acaba", Editorial Teorema, 2005
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