segunda-feira, 16 de junho de 2014

Imediatamente embora pouco a pouco #41



«Aprendo a ver. Não sei por que motivo, tudo penetra em mim mais profundamente e não se imobiliza no ponto em que se costumava extinguir. Tenho uma interioridade que desconhecia. Tudo agora para aí se encaminha. Não sei o que aí se passa.
Quando hoje estava a escrever uma carta apercebi-me de que estou aqui apenas há três semanas. Três semanas em qualquer outro lugar, no campo, por exemplo, seriam como um só dia, aqui são anos. Também já não quero voltar a escrever cartas. Para que hei-de dizer a alguém que me estou a transformar? Se me estou a transformar, já não sou aquele que fui, e sou diferente do que era até aqui, por isso é óbvio que não conheço ninguém. E é impossível escrever a pessoas desconhecidas, a pessoas que não me conhecem.»

Rainer Maria Rilke, "As Anotações de Malte Laurids Brigge", Relógio D'Água, 2003

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