quinta-feira, 14 de março de 2013

Inaugurar sentimentos, o amor por vir #9


«Quando conseguiu libertar-se daquele abraço, a náusea havia destruído nele toda a emoção. Não sentiu nenhuma necessidade de continuar a prédica iniciada e saiu, depois de ter feito uma carícia paternal e indulgente à rapariguinha,  que não queria deixar desgostosa.
Uma grande tristeza apoderou-se dele quando se viu sozinho na rua. Sentia que a carícia feita por complacência àquela garota marcava precisamente o fim da sua aventura. 
Ele próprio desconhecia que período importante da sua vida encerrara com essa carícia.
Durante muito tempo a sua aventura deixou-o desequilibrado, insatisfeito. Pela sua vida tinham passado o amor e a dor e, privado desses elementos, era agora dominado pela a mesma sensação de alguém a quem amputaram uma parte importante do corpo. Mas o vazio acabou por se encher. Voltou a nascer nele o gosto pela tranquilidade e pela segurança, e o cuidar de si próprio afastou dele quaisquer outros desejos.»

Ítalo Svevo, "Senilidade", Relógio D'Água, 1988

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