domingo, 24 de março de 2013

Imediatamente embora pouco a pouco #29


«Em mim é muito forte a disposição para não me sentir no meu lugar. Sempre foi para mim uma experiência especialmente agradável o não estar onde estivesse. Quando viajo, logo o gosto antecipado de partir daqui me faz feliz. Isto é, evidentemente, um trauma infantil pela falta de desejo de vir ao mundo. O mundo no qual nasci e a figura com a qual vim ao mundo deixam-me profundamente insatisfeito. Não gosto do meu aspecto e não me identifico com ele. Ainda me lembro que, quando vi pela primeira vez a minha imagem ao espelho, gemi literalmente de dor: não podia conceber que eu era esse. Esse é o desejo de sair do meu corpo, das minhas coisas, da minha casa... 
Não me sinto em casa em lado nenhum, sinto-me sempre em estado de trânsito. De um homem assim costumava dizer-se: ele não está bem em nenhum lado.»

Ilya Kabakov em conversa com Boris Groys

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