Hipótese
«Caius toma a palavra acerca de cheiros e avança uma hipótese sobre a origem do fedor:
- Antes de nascer, somos os cadáveres de uma vida de que não temos memória e andamos a flutuar no fundo do oceano.
Enquanto as nossas mães nos trazem na barriga, inchamos, enchemo-nos de ar, apodrecemos, vamos subindo lentamente até à superfície desse oceano.
Bruscamente, o nascimento lança-nos para a costa. É uma espécie de vaga violenta e súbita. T. Lucretius Carus dizia que em cada dia da nossa vida abordamos continuamente uma costa de luz.
Como o sol bate forte, começamos a cheirar mal, a decompor-nos e irrompemos a gritar.
Ao morrer, voltamos à profundidade, ao silêncio e à doçura inodora do abismo.»
Como o sol bate forte, começamos a cheirar mal, a decompor-nos e irrompemos a gritar.
Ao morrer, voltamos à profundidade, ao silêncio e à doçura inodora do abismo.»
Pascal Quignard, "As Tábuas de Buxo de Apronenia Avitia", Cotovia, 1999
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