 «Enterrei hoje minha mulher - porque lhe chamo minha mulher?  Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira.  Levá-la para o cemitério, e como? Fica longe. Ela pedira-mo uma vez,  inesperadamente, acordando-me a meio da noite. Queria que a enterrasse  junto ao muro que dá para o caminho, porque se vê daí a casa dela.  Habituara-se a olhar para aquele sítio depois que ficou só. E pensava:  "Verei dali a janela do meu quarto." Mas teria de transportá-la para lá.  Não tenho forças e cai neve. A quantos estamos? É Inverno, Dezembro,  talvez, ou Janeiro. Tiro a neve com uma pá, traço o rectângulo e cavo.»
«Enterrei hoje minha mulher - porque lhe chamo minha mulher?  Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira.  Levá-la para o cemitério, e como? Fica longe. Ela pedira-mo uma vez,  inesperadamente, acordando-me a meio da noite. Queria que a enterrasse  junto ao muro que dá para o caminho, porque se vê daí a casa dela.  Habituara-se a olhar para aquele sítio depois que ficou só. E pensava:  "Verei dali a janela do meu quarto." Mas teria de transportá-la para lá.  Não tenho forças e cai neve. A quantos estamos? É Inverno, Dezembro,  talvez, ou Janeiro. Tiro a neve com uma pá, traço o rectângulo e cavo.»
Vergílio Ferreira, "Alegria Breve", Bertrand, 2004
 
2 comentários:
Digam-me por favor que a mulher é a Maria Cavaca, e que a judiciária prendeu esta noite o marido... Por favor, digam-me!
Isso seria uma nada breve alegria!
Enviar um comentário