«Ela falava, falava, falava. Falava pelos cotovelos. Eu sou a dona da casa. E essa empregada gorda só sabia falar, falar, falar. Onde quer que eu estivesse, lá estava ela, chegava e começava a falar. De tudo e de nada, disto e daquilo, para ela tanto fazia. Despedi-la por causa disso? Teria que lhe dar três meses de indeminização. Ainda por cima, seria bem capaz de me rogar uma praga. Até na casa de banho: e para aqui e para acolá, e frito e cozido. Espetei-lhe o garfo na boca para que se calasse. Não morreu por causa disso, mas por já não poder falar: as palavras explodiram no interior.»
Max Aub, "Crimes eXemplares", Antígona, 2001