sábado, 31 de outubro de 2009

Toda a humilhação leva à morte #3



"O artista aceitou o seu próprio destino de olhos abertos e não creio que deseje qualquer tipo de caridade relativamente ao sacríficio que ele próprio assumiu. A única coisa que quer é compreensão e amor por aquilo que faz, mais nada."

Mark Rothko, "A Realidade do Artista", Cotovia, 2007

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Orelhas de Elefante #8

a Mitologia

Cristina Branco, "Kronos", Universal, 2009


a Filosofia

Júlio Resende, "Assim Falava Jazzatustra", Clean Feed, 2009


Porque há musicas de outras dimensões.

«Geometria que não se vê.
O AR é o chão da Música.
Não cai, encanta.»

Gonçalo M. Tavares

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o homem da quarta-feira #11


«Cliente: Uma pessoa que habitualmente faz uma escolha entre dois diferentes métodos de ser legalmente roubado.»

Ambrose Bierce, "Dicionário do Diabo", Tinta da China, 2006.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

o Mal-estar da Civilização #8



«Na hora de mais frequência nas ruas, quando a espessa malha da multidão se cruza evitando-se habilidosamente, incansavelmente artista em não chocar os seus guarda-chuvas, os seus carregos de caixas de cartão vazias, podemos meditar na desordem como numa consequência do ritmo de parentesco. Vemos de súbito toda essa gente, vizinha no seu tempo, nos seus desejos, na sua cidade, parecer explodir em direcções diferentes, procurando ignorar-se e precipitando-se nos intervalos livres de um passeio, duma praça. E se aproximássemos a nossa observação até ao nível das suas opiniões notaríamos que elas dependem mais da oposição ao que lhes é idêntico, do que resultam da lógica dos seus interesses. A desordem é a sensibilidade da limitação.»

Agustina Bessa Luís, "Conversações com Dmitri e outras fantasias", Na Regra do Jogo, 1979

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

electrocardioTrama #2 (ou a actividade poética do coração)

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«Quando leres isto, eu que era visível, serei invisível,
Agora és tu, concreto, visível, aquele que me lê, aquele que me procura,
Imagino como serias feliz se eu estivesse a teu lado e fosse teu companheiro,
Sê tão feliz como se eu estivesse contigo. (Não penses que não estou agora junto a ti.)»

domingo, 25 de outubro de 2009

Retrato de Família #6


Luiz P. Karamazov (1925-2008)

"Tive dois ameaçozitos. De um ameaço salvou-me o Cesariny e o Carlos. De repente estive para me mandar para dentro de água…"

sábado, 24 de outubro de 2009

a teia


©Cronenberg,David,2002

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

dedicatória #3*



* dedicada a todos os indivíduos que resolvem as relações à cabeçada.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

o homem da quarta-feira #10



«Porque será tão atraente - pensava o Macaco noutra ocasião, quando lhe deu para a literatura - e ao mesmo tempo tão desinteressante esse tema do escritor que não escreve, ou o do que passa a vida a preparar-se para criar uma obra-prima e que pouco a pouco se vai transformando num mero leitor mecânico de livros cada vez mais importantes, mas que na realidade não lhe interessam, ou o já conhecido (o mais universal) do escritor que quando aperfeiçoa um estilo descobre que não tem nada a dizer, ou o daqueIe que quanto mais inteligente é, menos escreve, enquanto à sua volta outros talvez não tão inteligentes quanto ele e os quais ele conhece e de alguma forma despreza publicam obras que toda a gente comenta e que de facto às vezes até são boas, ou o do que de alguma forma conseguiu fama de inteligente e se tortura a pensar que os seus amigos esperam dele que escreva alguma coisa, e fá-Io, tendo como único resultado os seus amigos começarem a suspeitar da sua inteligência, o que o leva ao suicídio de vez em quando, ou o do parvo que se crê inteligente e escreve coisas tão inteligentes que os inteligentes ficam admirados, ou o do que nem é inteligente nem parvo nem escreve nem ninguém o conhece nem existe nem nada?»

Augusto Monterroso, "A Ovelha Negra e outras fábulas", Angelus Novus, 2008

terça-feira, 20 de outubro de 2009

a poesia não me interessa #7



Sei que darei ao meu corpo os prazeres que ele me exigir.
Vou usá-lo, desgastá-lo até ao limite suportável,
para que a morte nada encontre de mim quando vier.

Al Berto, "À Procura do Vento Num Jardim D'Agosto", Edição de Autor, 1977

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Perguntas Abandonadas #2


Terei de confessar a mim mesmo que vou para a cova com a boca a saber-me a vulgaridade e a pó?

Raul Brandão (1867-1930)

domingo, 18 de outubro de 2009

Teoria da Conspiração #4 (ou a contabilidade periclitante)

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"A partir de 1899 Eastman não era só famoso. Era chefe eleitoral de uma zona importante, e cobrava fortes subsídios das casas de lampeão vermelho, das casas de jogo, das prostitutas das ruas e dos ladrões deste sórdido feudo. As associações consultavam-no para organizar mal-feitorias e os particulares também. Eis os seus honorários: quinze dólares por uma orelha arrancada, dezanove por uma perna partida, vinte e cinco por uma bala numa perna, vinte e cinco por uma punhalada, cem pelo negócio completo. Às vezes, para não perder o costume, Eastman executava pessoalmente uma encomenda."

Jorge Luis Borges, "História Universal da Infâmia", Obras Completas - Volume I, Teorema, 1998

sábado, 17 de outubro de 2009

Orelhas de Elefante #7


O Vermelho
Echo & the Bunnymen, "The Fountain", Ocean Rain, 2009

e o Negro
Air, "Love 2", Astralwerks, 2009

Porque há musicas de outras dimensões.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Toda a humilhação leva à morte #2



«A arte é magia, liberta da mentira de ser verdade.

O elemento consolador das grandes obras de arte reside menos no que dizem do que no facto de se arrancarem à existência. A esperança habita sobretudo nos que não encontram consolação.»

Theodor W. Adorno, "Minima Moralia", Edições 70, 2001

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

o Mal-estar da Civilização #7



«Falsos deuses são as duas coisas: tanto testemunhos como produtores da vã procura de uma identidade que nos salve. Enquanto não encararmos realmente de frente o desamor que nos rodeia, não seremos capazes de chegar a uma identidade própria e firmemente enraizada no que realmente somos. Se esse for o caso, a identidade tem de basear-se numa trama exterior: psicodramas e posturas ostensivas em que posses de sentimentos e valores tomam o lugar de uma identidade interior. Isso empurra as pessoas para a dependência de estruturas externas, tal como o estatuto social, posse, ordem, dever e obediência. Quando essas estruturas começam a vacilar devido à sua dinâmica própria, as pessoas que edificaram a sua identidade sobre elas desagregam-se. É esse o solo que não só permite como favorece os falsos deuses! O divino, salvador, que o Homem procura, é procurado no exterior da própria pessoa.»

Arno Gruen, "Falsos Deuses", Paz Editora, 1997

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

o homem da quarta-feira #9



«Ouvi o lento arrastar dos pés da cadeira no soalho nu, e pouco depois ele surgiu, de pé, à entrada do seu refúgio.
- O que é preciso? - perguntou calmamente.
- As cópias! As cópias! - exclamei eu, apressadamente. - Vamos conferi-las.
- Ali! - E estendi-lhe uma quarta cópia.
- Preferia não o fazer - respondeu, desaparecendo calmamente por trás do biombo.»

Herman Melville, "Bartleby", Assírio & Alvim, 1988

terça-feira, 13 de outubro de 2009

a poesia não me interessa #6




Homem e mulher passeiam pelo pavilhão das cancerosas

O homem:
Esta fila aqui são ventres putrefactos
e esta outra são seios putrefactos.
Cama a cama um cheiro nauseabundo. As enfermeiras mudam de hora a hora.
Anda, ergue sem medo esta coberta.
Olha, este montão de gordura e de pús
significou já algo de sublime para um homem,
já foi embriaguês, terra natal.
Vem cá, olha esta cicatriz no peito.
Não sentes o rosário de contas moles?
Apalpa sem receio. A carne é mole e já não dói.
Esta aqui sangra por trinta corpos.
Ninguém pode ter tanto sangue.
A esta aqui conseguiram ainda
extrair-lhe um filho do ventre canceroso.
Deixam-nas dormir. Dia e noite. Às novas
dizem-lhes: aqui o sono é cura. Só aos domingos,
quando há visitas, as deixam mais despertas.
Come-se pouco já. As costas
estão em ferida. Vês bem as moscas. Por vezes
a enfermeira lava-as. Como quem lava bancos.
Aqui, a terra incha já em redor de cada leito.
A carne mirra e torna-se planície. O ardor vital vai-se desvanecendo.
A linfa resigna-se a escorrer. A terra chama.

Gottfried Benn in "A Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas", selecção e tradução de João Barrento, Relógio D' Água, 2001

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

a correspondência



©Bergman, Ingmar;1957

domingo, 11 de outubro de 2009

Teoria da Conspiração #3 (ou a visão nocturna)



"Apaixonar-se sozinha é apaixonar-se pelo silêncio. Um silêncio com fumos e espelhos. O amor, se é alguma coisa, é dos que se olham. "

Alejandra Pizarnik (1936-1972)

sábado, 10 de outubro de 2009

Orelhas de Elefante #6

orelha direita


The Montgolfier Brothers, "All My Bad Thoughts", Vespertine & Son, 2006


orelha esquerda

Susanna and the Magical Orchestra, "3", Rune Grammofon, 2009

Porque há musicas de outras dimensões.


«You get so alone at times that it just makes sense»

Charles Bukowski

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Retrato de Família #5

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Albert C. Karamazov (1913-2008)

«Não há nada de mais imoral do que roubar sem riscos. É o risco que nos diferencia dos banqueiros e dos seus émulos que praticam o roubo legalizado com a cobertura do governo.»

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Momento Pergaminho #1



«Duas lagartas amigas viveram muito tempo juntas. Um dia uma delas morreu e a sua leal e verdadeira amiga iniciou uma longa vigília de tristeza junto ao corpo da que havia morrido.
Após muitos dias de luto e mágoa, a lagarta viu uma borboleta ao seu lado.
"Por que choras?" Perguntou a borboleta.
"Porque perdi a minha amiga". Respondeu a largata.
Então, com beleza e esplendor, a borboleta orgulhosamente disse:
"Mas eu sou a tua amiga!".»

Autor Suspeito

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

o homem da quarta-feira #8



"Em que estás trabalhando?", perguntaram ao senhor K.
Ele respondeu: "Tenho muito que fazer, preparo o meu próximo erro"

Bertolt Brecht, "Histórias do Senhor Keuner", Campo das Letras, 2007

terça-feira, 6 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

o Mal-estar da Civilização #6



“O oficial faz um gesto e o sargento agarrou o miúdo por um braço, tirando a pistola do coldre. «Não, aqui não. Mais longe» disse o oficial, voltando as costas. A criança começou a andar ao lado do sargento, correndo para poder acompanhá-lo. De repente, o oficial voltou-se, levantou a chibata e gritou:
«Um momento!». O sargento voltou-se, olhou para o oficial com ar perplexo, depois voltou atrás, empurrando na sua frente a criança, com a extremidade da mão estendida.
«Que horas são?» perguntou o oficial. Depois, sem esperar pela resposta, começou a andar de um lado para o outro, na frente da criança, batendo nas botas com a chibata. O cavalo puxou pelas rédeas e seguiu-o baixando a cabeça e resfolegando. A certa altura, o oficial parou diante da criança. Fixou-a muito tempo em silêncio e disse-lhe com voz lenta, baixa, contrariada:
«Ouve, não quero fazer-te mal. Não passas de um miúdo. Não faço guerra aos miúdos. Disparaste sobre os meus soldados. Mas eu não faço guerra às crianças. Meu Deus! Não fui eu quem inventou a guerra!». O oficial parou e disse ao rapaz com estranha suavidade:
«Ouve, eu tenho um olho de vidro. É difícil distingui-lo do bom. Se fores capaz de me dizer imediatamente, sem pensar, qual dos dois é o olho de vidro, deixo-te partir em liberdade».
«O olho esquerdo» respondeu imediatamente o rapaz.
«Como o descobriste?»
«Porque é o único que tem expressão humana».”

Curzio Malaparte, "Kaputt", Livros do Brasil, 1962

domingo, 4 de outubro de 2009

se isto é um Homem



©Lynch,David;1980

sábado, 3 de outubro de 2009

Retrato de Família #4

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Ramón G. de La S. Karamazov (1888–1963)

"Olharam-se de janela a janela em dois comboios que iam em direcção opostas,
mas tal é a força do amor que logo os dois comboios se puseram a andar para o mesmo lado"

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Orelhas de Elefante #5




Porque há musicas de outras dimensões.

Kings Of Convenience, "Declaration of Dependence", Virgin, 2009


"Há três níveis de ilusão:
ilusão simples,
ilusão premeditada, e...
as recordações do ouvinte."

Vitaly Margulis, "Bagatelas op. 6", Edições Quasi, 2001

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

electrocardioTrama #1 (ou a actividade eléctrica da literatura)



"—Yo te aseguro, Sancho —dijo don Quijote—, que debe de ser algún sabio encantador el autor de nuestra historia; que a los tales no se les encubre nada de lo que quieren escribir."