Deixem a correspondência debaixo da porta
terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Chamada a pagar no destinatário #13
- Maddie, «observe how motionless the eaten moon lies in the protective lines.
- It is true: in the light colors of the morning»
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Chamada a pagar no destinatário
domingo, 29 de julho de 2012
sábado, 28 de julho de 2012
o Mal-estar da Civilização #31
«O que há de nocivo no que se come para enganar a fome não se limita a tudo o que isso suprime, alastra também a tudo o que transporta consigo apenas pelo simples facto de existir, segundo um esquema que se aplica a cada nova produção do velho mundo. Os alimentos, que perderam todo o seu gosto, acabam por ser apresentados como higiénicos, dietéticos e saudáveis, por oposição às arriscadas aventuras das formas pré-científicas de alimentação.»
atribuído a Guy Debord, "Enganar a Fome", frenesi, 2000
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Por vocações de Leitura #8 (pequenos almoços)
Alice no País das Maravilhas
À Espera no Centeio
A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo
Moby Dick
Oliver Twist
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Não respire... (ou leituras em apneia) #7
«No geral, não há nada a dizer sobre mulheres sujeitas a estas sessões. Uma mulher entregue às mãos de psicanalistas fica definitivamente imprópria para uso, o que vim a constatar inúmeras vezes. Este fenómeno não deve ser considerado como um efeito secundário da psicanálise, mas sim como a causa principal. Sobre o pretexto da reconstrução do eu, os psicanalistas procedem na verdade a uma escandalosa destruição do ser humano. Inocência, generosidade, pureza... tudo isto é rapidamente triturado por entre essas mãos grosseiras. Os psicanalistas, regaladamente remunerados, pretensiosos e estúpidos, exterminam de modo conclusivo toda a aptidão para o amor nos seus pacientes, tanto mental como física; comportam-se com efeito como verdadeiros inimigos da humanidade. Impiedosa escola de egoísmo, a psicanálise está apetrechada com o maior dos cinismos à conta das corajosas raparigas miseráveis para as transformar em ignóbeis parvalhonas de egocentrismo delirante, que pode apenas suscitar a mais profunda agonia. Não se deve confiar, qualquer que seja o caso, numa mulher que tenha passado pelas mãos de um psicanalista. A mesquinhez, o egoísmo, o disparate arrogante, a completa falta de sentido moral, a incapacidade crónica de amar: eis o retrato exaustivo de uma mulher “psicanalizada”.»
Michel Houellebecq, “Extensão do Domínio da Luta”, Quasi Edições, 2006
Pode respirar.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
terça-feira, 24 de julho de 2012
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Toda a humilhação leva à morte #16
«Bom bebedor bebe-lhe bem
Bebe-lhe bom bebedor
Que faz que a mulher ande à gandaia
E a filha seja pior
E a puta da neta levante a saia
Até ao quintal do prior?
O vinho é o mesmo e da mesma cor
Bebe-lhe, bebe-lhe, bom bebedor»
Fernando Pessoa, "Fausto - Tragédia Subjectiva", Presença, 1988
domingo, 22 de julho de 2012
Dicionário das causalidades #14
O
Ofício
«Dado que há cada vez maior número de escritores, os poucos leitores que ainda havia no mundo vão mudar de oficio e passar a escrever. Os países serão dos escribas e das fábricas de papel e tinta, os escribas escrevendo de dia, as máquinas imprimindo de noite o trabalho dos escribas. As bibliotecas não caberão dentro das casas, e então os municípios decidirão (o que já acontece) sacrificar os terrenos dos parques infantis para ampliar as bibliotecas. Seguem-se os teatros, as maternidades, os matadouros, os restaurantes, os hospitais. Os pobres aproveitam os livros como tijolos, põem-lhes cimento e fazem paredes de livros. Então acontece que os livros extravasam das cidades para os campos, esmagam o trigo e os girassóis, dificilmente consegue a direcção de viação manter as estradas limpas entre dois altíssimos muros de livros. De vez em quando cai um muro e há espantosas catástrofes automobilísticas. Os escribas trabalham incansavelmente, porque a humanidade respeita as vocações, e as coisas impressas chegam já à beira-mar.»
Julio Cortázar, "Histórias de Cronópios e de Famas" Editorial Estampa, 1973
sábado, 21 de julho de 2012
a temperatura do corpo #18
«Começam de enxergar subitamente,
Por entre verdes ramos de várias cores,
Cores de quem avista, julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores.
Mas de lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas,
Fazendo-se por arte mais fermosas.»
Luiz Vaz de Camões, "Os Lusíadas, Canto IX, ", Porto Editora, 1978
sexta-feira, 20 de julho de 2012
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Inaugurar sentimentos, o amor por vir #2
«Psique voltou para o seu palácio e seguiu o conselho das irmãs. descobriu então, adormecido no seu leito, um belo adolescente. Enternecida, comovida com a surpresa, deixou inadvertidamente cair sobre ele uma gota de azeite a ferver, de tal modo a mão lhe tremia ao erguer sobre o seu rosto a lucerna. Sentindo a queimadura provocada pelo azeite, o Amor (pois ele era o Monstro cruel de que falara o oráculo) acordou e, cumprindo as ameaças que fizera a Psique, fugiu para não mais voltar.
Abandonada pelo Amor, a pobre Psique começou a errar pelo mundo, perseguida pela cólera de Afrodite, indignada pela sua beleza. Todas as divindades se recusaram a acolhê-la. A jovem fugiu até que finalmente a deusa a alcançou: levou-a então como prisioneira para o seu palácio, atormentou-a de mil maneiras, impôs-lhe múltiplas tarefas - escolher cereal, tosquiar carneiros selvagens e até descer aos infernos. Aí deveria, por ordem de Afrodite, pedir a Perséfone um frasco cheio de água da fonte da juventude, mas não deveria abri-lo. Psique abriu o frasco e adormeceu de um sono profundo.»
Pierre Grimal, "Dicionário da Mitologia Grega e Romana", Difel, 2009
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quarta-feira, 18 de julho de 2012
diário dos mesmos pesares #17
«Assim, as coisas já não eram tão simples como no começo, ele passava a erguer barricadas no pensamento, na esperança de um dia poder combater em cima delas: durante a noite, ficava horas e horas acordado, aparentemente calmo, mas tremendamente perseguido por si próprio ao longo da praia, no alto dos rochedos, através da selva e de novo na falésia, no fundo de uma fenda a pique onde os pés e as mãos mal achavam onde se agarrar.»
Stig Dagerman, "A Ilha dos Condenados", Antígona, 1990
terça-feira, 17 de julho de 2012
Imediatamente embora pouco a pouco #22
«Pois há-de ser pela música que no inimaginável coração do tempo vem permanecer tudo o que se passou, tudo o que passa sem poder acabar de passar, o que não teve nenhum substância, mas sim um certo ser ou avidez de tê-la. Tudo o que se interpôs no fluir temporal, detendo-o. Tudo o que não seguiu o curso do tempo com os seus desertos, onde tantos abismos se abrem; o que não concordou com o seu invisível ser, que somente se nos dá a sentir e a ouvir, mas não a ver - o ver aquilo que o tempo causou é já um juízo. Pranto também esta música do decorrer, como se o incrível coração do tempo tivesse recolhido o pranto de tudo o que se passou e do que não chegou a dar-se. E o gemido da possibilidade salvadora, e o que que foi negado aos que estão sob o tempo. Parece-me que é o sentir do próprio tempo aquilo que se desarma musicalmente sobre o sentir de quem escuta ao padecê-lo. Uma musica que vem dar-se no modo da oração.»
Maria Zambrano, "Clareiras do Bosque", Relógio D`Água, 1995
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Imediatamente embora pouco a pouco
segunda-feira, 16 de julho de 2012
domingo, 15 de julho de 2012
Teoria da Conspiração #36 (ou a construção do leitor sustentável)
«Já muitas vezes se tem falado dos abusos da Biblioteca. Devem-se, em parte, à insuficiência do pessoal e em parte, também, a velhas tradições que se vão perpetuando. De tudo quanto se disse, o mais verdadeiro é que grande parte do tempo e da canseira dos distintos eruditos que ali desempenham as pouco lucrativas funções de bibliotecários é gasta a dar aos seiscentos leitores quotidianos os livros vulgares que se podem encontrar em qualquer sala de leitura; - o que é tão prejudicial para estas, como para os editores e autores para quem, a partir desse momento, se torna inútil comprar ou alugar livros.
Também foi dito, e com razão, que um estabelecimento único no mundo, como este é, não deveria ser uma lareira pública, uma sala de asilo, - cujos hóspedes são, na sua maior parte, perigosos para a existência e a conservação dos livros. Toda essa serie de ociosos, burgueses reformados, de viúvos, de solicitadores sem cartório, de alunos que vêm copiar as suas versões, de velhos maníacos - como era o caso daquele pobre Carnaval que aparecia todos os dias com um fato vermelho, azul claro ou verde-alface, e um chapéu florido, - merece sem dúvida, consideração; mas não haverá outras bibliotecas, e mesmo bibliotecas especiais, que lhes sejam facultadas?...»
Gérard de Nerval, "As Filhas do Fogo", Editorial Estampa, 1972
sábado, 14 de julho de 2012
sexta-feira, 13 de julho de 2012
quinta-feira, 12 de julho de 2012
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Chefe, precisamos de mentiras novas #8
«Parece-me que, como acabo de contar, foi em 1732 que cheguei a Chambéry, e entrei para o meu emprego no cadastro real. Tinha vinte anos feitos, quase vinte e um. Pelo que me diz respeito à inteligência, estava desenvolvido para a idade; mas quanto ao pensar, tinha pouco, e estava bem precisado das mãos em que caí para a aprender a conduzir-me: pois que alguns anos de experiência não haviam podido curar-me radicalmente das minhas visões romanescas, e apesar de todos os reveses que havia sofrido, conhecia tão pouco o mundo e os homens, que era como se não tivesse pago aquelas lições.»
Jean-Jacques Rousseau, "Confissões", Relógio d'Água, 1988
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terça-feira, 10 de julho de 2012
Ela tem os teus olhos #4
«Quando vemos televisão, passamos pela experiência de imagens cerebrais. Ao contrário do que acontece no caso da privação sensorial, essas imagens não nos pertencem. São da autoria de terceiros. Visto todas as outras nossas capacidades se encontrarem reprimidas e o resto do mundo obscurecido, é provável que essas imagens consigam exercer grande influência. Estarei eu a falar de lavagem ao cérebro, hipnose, controlo à distância ou algo semelhante? O que é certo é não há dúvida de que alguém comunica com a nossa mente e deseja levar-nos a fazer alguma coisa.
Primeiro, fique connosco.
Segundo, viva as nossas imagens.
Terceiro, compre alguma coisa.
Quarto, esperamos por si amanhã.»
Jerry Mander, "Quatro Argumentos Para Acabar com a Televisão", Antígona, 1999
segunda-feira, 9 de julho de 2012
domingo, 8 de julho de 2012
a poesia não me interessa #34
Apeteceu-lhe a felicidade,
apeteceu-lhe a verdade,
apeteceu-lhe a eternidade,
vejam só!
Mal discerniu o sonho da realidade,
mal se apercebeu que ele é ele,
mal lhe nasceu a mão da barbatana,
talhou o fuzil e o foguete.
Tão frágil, que afogar-se-ia numa poça de água.
tão pouco engraçado, que nem o nada o faria rir,
é só com os olhos que vê,
é só com os ouvidos que ouve,
é com o intelecto que reprova o intelecto,
o recorda da sua fala é o mundo condicional,
numa palavra : quase ninguém,
mas almeja a liberdade, a omnisciência
e a existência fora da carne néscia,
vejam só!
Porque afinal parece existir,
efectivamente aconteceu
sob uma das estrelas provincianas,
ao seu jeito vivaz e bem activo.
Para um vil bastardo de cristal -
bastante se admira.
Para uma infância difícil, condicionada pelo rebanho -
vejam só!
Então que continue, nem que seja por um instante,
nem que seja pelo clarão de uma pequena galáxia!
Que por fim se saiba mais ou menos
o que será, uma vez que é.
E ele é tenaz.
Tenaz, diga-se, e muito.
De argola no nariz, de toga ou casaco de malha.
Tem piada, seja como for.
Pobre coitado.
Enfim - o Homem.
Wislawa Szymborska
Czeslaw Milosz - Wislawa Szymborska, "Alguns gostam de poesia", Cavalo de Ferro, 2004
sábado, 7 de julho de 2012
Retrato de Família #20
Jorge Luis B. Karamazov (1899-1986)
«Nunca vivi em um mundo visual. Por exemplo, eu sei que tenho, me garantiu minha mãe que não me engana, duas gravatas. Em outras épocas tive mais, mas nunca soube quantas. Não sei qual a cor da roupa que uso.»
sexta-feira, 6 de julho de 2012
espécie de oração particular #19
«Ermo semeador da liberdade,
Saí sozinho, antes da estrela;
Com a mão límpida e sem pecado,
Nos sulcos da terra escravizados
Lancei o grão vivificante –
Pena perdida: perdi meu tempo,
Meus bons desígnios e meus cuidados…»
Aleksandr Púchkin, “O Cavaleiro de Bronze e outros poemas”, Assírio & Alvim, 1999
quinta-feira, 5 de julho de 2012
o Mal-estar da Civilização #29
«Diz aos teus amigos e conhecidos que, se não voltares, é porque o teu sangue parou e se imobilizou ao ver estas cenas atrozes e bárbaras, ao ver como pereceram as crianças inocentes e sem protecção do meu povo só e abandonado.
Diz-lhe que, se o teu coração se transformar em [pedra], o teu cérebro em frio mecanismo de pensamento e o teu olho em simples máquina de fotográfica, também não voltarás ao seu encontro.»
Z. Gradowski
quarta-feira, 4 de julho de 2012
terça-feira, 3 de julho de 2012
Inaugurar sentimentos, o amor por vir #1
«Perdi o meu ódio, quando? Não há duvida que lhe sinto a falta, a esse ódio cheio e suculento. Há um nome, eu sei, que podia despertá-lo, mas prefiro por enquanto deixá-lo esquecido. Pudesse eu apagar esse nome, não apenas da minha memória, mas também da de todos os homens que sobreviverem! Pudesse eu reduzi-lo a cinzas nas nossas cabeças, e a minha vida não teria sido em vão: Aquiles.»
Christa Wolf, "Cassandra: narrativa", Cotovia, 1989
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segunda-feira, 2 de julho de 2012
domingo, 1 de julho de 2012
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