sábado, 12 de outubro de 2013

a temperatura do corpo #31


«Há, assim, três coisas que metem medo.
A primeira é a mutação. Ninguém sabe o que é um homem. Os limites da espécie humana não são consequentemente conhecidos. Podem, no entanto, ser sentidos. O mutante é o fora-de-série, que traz a série consigo. Este livro é um processo de mutantes, fisicamente escorreitos. É um processo terrível. Convém ter medo deste livro.»


«Há, como disse, três coisas que metem medo. 
A segunda é a Tradição, segundo o espírito que muda onde sopra.
Todos cremos saber o que é o Tempo, mas suspeitamos, com razão, que só o Poder sabe o que é o Tempo: a Tradição segundo a Trama da Existência. Este livro é a história da Tradição segundo o espírito da Restante Vida. Mais uma razão para não o tomarmos a sério.»


«Há, pela última vez o digo, três coisas que metem medo. A terceira é um corp’a’screver. Só os que passam por lá, sabem o que isso é. E que isso justamente a ninguém interessa.
O falar e negociar o produzir e explorar constroem, com efeito, os acontecimentos do Poder. O escrever acompanha a densidade da Restante Vida, da Outra Forma de Corpo, que, aqui vos deixo qual é: a Paisagem.
Escrever vislumbra, não presta para consignar. Escrever, como neste livro, leva fatalmente o Poder à perca de memória.
E sabe-se lá o que é um Corpo Cem Memórias de Paisagem.»

Maria Gabriela Llansol, "O Livro das Comunidades", Relógio D'Água, 1999

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