domingo, 31 de janeiro de 2010

Perguntas Abandonadas #4


«O rouxinol! em cem pessoas, quantas dão por ele?»

D. T. Suzuki (1870–1966)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Teoria da Conspiração #10 (ou o encontro na sombra)



«FAUSTO:
De ti, ó ígnea imagem, não me escudo!
Sou eu, sou Fausto, igual a ti em tudo!

ESPÍRITO:
Nas vagas da vida, vendavais de acção,
Me vês subir , descer,
Tecer fios neste pano!
Nascer e morrer,
Eterno oceano,
Alternando a trama,
A vida uma chama,
E sentado ao tear vibrante do Tempo
Teço à divindade o seu manto vivo.

FAUSTO:
Tu, que a vastidão do mundo envolves,
Génio da acção, que perto estou de ti!

ESPÍRITO:
Tu és igual ao espírito que entendes,
Não a mim! (Desaparece.)»

Johann W. Goethe, "Fausto", Relógio d'Água, 2003

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

a claustrofobia



©Aronofsky,Darren;2008

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Retrato de Família #10



J. D. S. Karamazov (1919 –2010)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

o homem de quarta-feira #23



«Um Lavrador que se encontrava às portas da morte, tendo conhecimento que durante a sua doença os Filhos haviam deixado a vinha cobrir-se de ervas daninhas enquanto jogavam às cartas com o médico, disse-lhes:
- Meus rapazes, há um grande tesouro enterrado na vinha. Cavem até o encontrarem.
E foi assim que os Filhos arrancaram todas as ervas daninhas, juntamente com todas as cepas, esquecendo-se inclusive de enterrar o velhote.»

Ambrose Bierce, "Esopo Emendado & Outras Fábulas Fantásticas", Antígona, 1996

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

Orelhas de Elefante #11

Surrealismo

Massive Attack, "Heligoland", Virgin, 2010

Realismo

The Magnetic Fields, "Realism", Nonesuch Records, 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Momento Pergaminho #3



«Estás no valo a trabalhar. O crepúsculo que te envolve é cor de cinza, o céu acima é cinzento, cinzenta a neve no pálido lusco-fusco, os trapos dos teus companheiros são cinzentos, e também os semblantes deles são cor de cinza. Retomas outra vez o diálogo com o ente querido. Pela milésima vez lanças rumo ao sol teu lamento e tua interrogação. Buscas ardentemente uma resposta, queres saber o sentido do teu sofrimento e de teu sacrifício – o sentido de tua morte lenta. Numa revolta última contra o desespero da morte à tua frente, sentes teu espírito irromper por entre o cinzento que te envolve, e nesta revolta derradeira sentes que teu espírito se alça acima deste mundo desolado e sem sentido, e tuas indagações por um sentido último recebem, por fim, de algum lugar, um vitorioso e regozijante “sim”. Nesse mesmo instante acende-se ao longe uma luz, na janela de uma distante moradia camponesa, postada feito bastidor à frente do horizonte, em meio à cinzenta e desolada madrugada bávara “et lux in tenebris lucet”, e a luz resplandece nas trevas. Agora estiveste horas a fio picando o chão congelado, outra vez passou a sentinela e debochou um pouco de ti, e de novo recomeças o diálogo com teu ente querido. Tens cada vez mais o sentimento de que ela está presente. Sentes que ela está ali. Crê poder tocá-la, parece precisares apenas estender a mão para tomar sua mão. E com grande intensidade te invade o sentimento: Ela, está aqui! Eis que no mesmo instante – o que é aquilo? – sem que tenhas notado, acaba de pousar um passarinho bem à tua frente, sobre o torrão que recém cavaste, para te fitar atento e sereno...»

Viktor Frankl, "Em Busca de Sentido", Editora Vozes, 2006


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Toda a humilhação leva à morte #7



«A virtualização, de maneira geral, é uma guerra contra a fragilidade, a dor, a usura. Em busca da segurança e do controlo, perseguimos o virtual porque nos leva a regiões ontológicas que os perigos vulgares já não atingem. A arte questiona esta tendência e virtualiza, assim, a virtualização, porque procura, a partir do mesmo momento, uma saída do aqui e do agora, e a sua exaltação sensual. Ela retoma a tentativa de evasão. Ela ata e desata a energia afectiva que nos faz superar o caos. Em ultima instância, ao denunciar o motor da virtualização, ela problematiza o esforço incansável, por vezes fecundo e sempre votado ao fracasso, que empreendemos para escapar à morte.»

Pierre Lévy

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

diário dos mesmos pesares #3




«Um Diário destes não magoa», pensa a rapariga, folheando
O seu caderno: «Apaga os passos que dei até aqui».
E imagina que a espera um espaço imenso. Páginas adiante,
A letra torna-se irregular, a simetria esvai-se confusa.
Não foi, certamente, o espaço que dela se abeirou. Não.
Também não foi o amor, como se poderia pensar.
Foi o Género. Pegou no Diário e fê-lo romance. É assim.
Só estranho o novo corpo que lhe foi dado.»

Maria Gabriela Llansol, "O Começo de um Livro é Precioso", Assírio e Alvim, 2003

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

o homem de quarta-feira #22



SALMO CXXXVII

«5     Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, minha dextra se esqueça de si mesma.
  6     Minha língua se apegue a meu paladar, se de ti me não lembro: se a Jerusalém não exalço sobre o mais alto da minha alegria.»   

Bíblia Ilustrada, "Vol. 5, Salmos - Isaías ", Assírio & Alvim, 2007

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

dicionário das causalidades #2



B

Bem-aventuranças

«Os que se mostram perenemente surpreendidos por a depravação existir, que continuam a sentir-se desiludidos (mesmo incrédulos) quando confrontados com a evidência daquilo que os humanos são capazes de inflingir sob a forma de sinistras atrocidades impostas a outros humanos, não atingiram ainda a idade adulta moral ou psicológica. Ninguém, a partir de certa idade, tem o direito a tal tipo de inocência, de superficialidade, de tal grau de ignorância, ou amnésia.»

Susan Sontag, "Olhando o Sofrimento dos Outros", Gótica, 2003

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

o Mal-estar da Civilização #12



«Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso»

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Obra Poética I", Círculo de Leitores, 1992

domingo, 17 de janeiro de 2010

dedicatória #5*



* dedicada a todos os que aqui entram por esta janela.

sábado, 16 de janeiro de 2010

melotrama


©Antonioni,Michelangelo;1966

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

a vida não é um sonho #2



«Prive o homem comum da sua mentira vital e ter-lhe-á roubado a felicidade.»

Henrik Ibsen, "Peças Escolhidas II", Cotovia, 2008


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

a poesia não me interessa #13



O Espelho de Água


O meu espelho, correndo pelas noites,
Torna-se arroio e afasta-se do meu quarto.

O meu espelho, mais profundo que a orbe
Onde todos os cisnes se afogaram.

É um tanque verde na muralha
E no meio dorme a tua nudez ancorada.

Sobre as suas ondas, debaixo de céus sonâmbulos,
Os meus sonhos afastam-se como barcos.

De pé sobre a popa ver-me-eis sempre a cantar,
Uma rosa secreta cresce no meu peito
E um rouxinol ébrio esvoaça no meu dedo.


Vicente Huidobro

in "O Mar na Poesia da América Latina", Assírio & Alvim, 1999

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

o homem de quarta-feira #21

Clarinete

«Flauta hiper-atrofiada. Às vezes, o coitado, soa bem.»

Luis Buñuel, "Os Poemas de Luis Buñuel", Assírio & Alvim, 1995

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

espécie de oração particular #3


«Queimem, por consequência: não há herança literária, minhas pobres filhas. Não submetam sequer à apreciação de quem for: recusem qualquer ingerência curiosa ou amigável. Digam que não se perceberia nada; é verdade de resto, e vós, minhas pobres prostradas, os únicos seres no mundo capazes de respeitar a este ponto toda uma vida de artista sincero, crede que foi muito belo.»

mensagem de Mallarmé deixada à mulher e filha antes de morrer (trad. José-Manuel Xavier)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Teoria da Conspiração #9 (ou o manual da descolagem)


«Como estado ideal, a leitura transtorna muitas das distinções que permitem diferenciar os homens entre si e os fazem a nossos olhos mais justos ou menos justos. De um rosto que está entregue à leitura sobe o sussurro ou o murmúrio de quem participa numa grande mente. Cada um que lê reune-se a uma imensidade pensante, em repouso, quem lê está em estado de levitação, pertence a uma imagem pairante.»

Maria Filomena Molder, "Semear na Neve. Estudos sobre Walter Benjamin", Relógio D'Água, 1999

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Retrato de Família #9


Flannery O. Karamazov (1925 –1964)

Considera que a universidade sufoca potenciais escritores?
«Na minha opinião, ainda não sufoca o suficiente. Com um bom professor tantos best-sellers se teriam podido evitar»

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

a vida não é um sonho #1


«Em estado de doença, os sonhos distinguem-se muitas vezes pelo extraordinário relevo, por uma nitidez e uma semelhança incrível com a realidade. Às vezes os sonhos montam-nos cenários monstruosos, mas o ambiente e todo o processo do espectáculo são tão vivos e com pormenores tão subtis, tão inesperados, mas encaixando-se tão bem, tão artisticamente, na plenitude da imagem, que o próprio espectador do sonho não conseguiria inventá-los em vigília, nem que fosse um mestre como Púchkin ou Turguénev. Tais sonhos, sonhos doentios, ficam por muito tempo na memória e causam uma impressão muito forte ao organismo já abalado e excitado do indivíduo.»

Fiódor Dostoievski, "Crime e Castigo", Editorial Presença, 2001

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

o homem da quarta-feira #20



«Do caso de Kafka sabemos muito pouco. Sabemos apenas que sentia uma grande insatisfação em relação ao seu trabalho. Claro que quando ele disse ao seu amigo Max Brod que queria que os seus manuscritos fossem queimados, tal como também Virgílio pediu, creio que ele sabia que o seu amigo não faria isso. Se um homem pretende destruir o seu próprio trabalho, atira-o para o fogo e pronto. Quando ele diz a um amigo muito próximo: quero que todos os manuscritos sejam destruídos, ele sabe que o amigo nunca fará isso, e o amigo sabe que ele sabe, e que ele sabe que o outro sabe que ele sabe e por aí adiante.»

Entrevista a Jorge Luis Borges, "Entrevistas da Paris Review", Tinta da China, 2009

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

é meia-noite no fim do céu #3


«A nota triste dum longínquo grito humano atravessou uma vez mais o rumor que agonizava; e, depois, tudo se calou de repente.»

Vladimir Korolenko, "O Músico Cego", Publicações Europa-América, 1971

domingo, 3 de janeiro de 2010

sábado, 2 de janeiro de 2010