sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Homem é um grande faisão sobre a terra #4



«Encontrava-me de vigia no mastro de traquete e, com as espáduas apoiadas às enxárcias do sobre da proa, deixava-me embalar preguiçosamente naquela atmosfera encantada.
Antes de me abandonar porém um total esquecimento de tudo, tinha observado que os vigias do mastro grande e do mastro da gata dormitavam, de tal modo que, afinal de contas, nos balouçávamos todos três sem vida no estais e a cada oscilação correspondia um cabecear do timoneiro sonolento do timão. As vagas cabeceavam indolentes e, no meio do grande entorpecimento do mar, o Leste pendia a cabeça para o Oeste e, por cima de tudo, o próprio Sol dormia.
Subitamente, foi como se bolhas gigantescas me rebentassem debaixo das pálpebras. Agarrei-me às enxárcias com as mãos crispadas. Uma força qualquer invisível e amiga acabava de me salvar.» 

Herman Melville, "Moby Dick", Relógio D'Água, 2007  

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