quinta-feira, 11 de julho de 2013

Perguntas Abandonadas #31


«Estava aqui sentado e sabes o que cogitava para comigo? Se não tiver fé na vida, se perder a confiança na minha mulher amada, se perder a fé na ordem das coisas e se, pelo contrário, me convencer de que tudo é um caos desordenado, maldito e, talvez, diabólico, se me atingirem todos os horrores da desilusão humana, desejarei na mesma viver, e já que levei à boca esta taça, não a largarei até que beba a última gota! Aliás, aos trinta anos sou capaz de largar a taça, mesmo que não a tenha bebido até ao fim, e de me afastar... não sei para onde. Mas, até aos trinta, sei muito bem que a minha juventude vencerá tudo, vencerá qualquer desilusão, qualquer repugnancia pela vida. Tenho perguntado a mim mesmo muitas vezes: haverá no mundo um desespero que possa vencer em mim esta sede de vida, frenética e, talvez, indecente? Cheguei à conclusão de que, pelos vistos, não existe, pelo menos até aos tais trinta anos; e, ao chegar lá, repito, talvez já não anseie por nada, assim me parece.»

 Fiódor Dostoievski, "Os Irmãos Karamázov", Editorial Presença, 2002

4 comentários:

Th.M. disse...

Li e reli a pergunta inserida no texto transcrito.
O negrito, suponho, é da tua iniciativa.

Talvez por isso, fiquei curioso com uma tua eventual resposta,
imaginando que és tu mesmo a fazer a pergunta.
Aguardo, com serena curiosidade, sem voyeurismo.
:)

Th.M. disse...

Gosto da foto que escolheste.
Aprecio muito o trabalho do fotógrafo
Levi Van Veluw
http://www.levivanveluw.nl/

Irmão Karamazov disse...

eu e as minhas respostas não coincidimos.
(Pensar é não responder. Pensar é não saber.)

Também admiro muito o universo do Sr. Van Veluw, os próximos dias serão na sua companhia.

Th.M. disse...

Grato por teres respondido.

Entre a "coincidência" e a "coerência",
teria escolhido esta,
nunca a primeira.

(o parêntesis é muito discutível)