sábado, 16 de novembro de 2013

A vida não é um sonho #33


De tudo o que disse de mim que resta
Conservei falsos tesouros em armários vazios
Um navio inútil liga a minha infância ao meu fastio
Os meus jogos ao cansaço
A tempestade ao arco das noites em que estou só
Uma ilha sem animais aos animais que amo
Uma mulher abandonada à mulher sempre nova
Em veia de beleza
A única mulher real
Aqui e em qualquer parte
A oferecer sonhos aos ausentes
Sua mão estendida para mim
Reflecte-se na minha
Digo bom-dia sorrindo
Não se pensa na ignorância
E a ignorância reina
Sim eu tudo esperei
E desesperei de tudo
Da vida do amor do esquecimento do sono
Das forças das fraquezas
Já não me conhecem
Lobos são meu nome e minha sombra.

Paul Éluard, "Algumas Palavras (Antologia)", Publicações Dom Quixote, 1977

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