domingo, 3 de fevereiro de 2013

Momento Pergaminho #13


«O demónio da sexualidade insinua-se em nossa alma como uma serpente. Trata-se de uma alma semi-humana e chama-se pensamento-desejo.
O demónio da espiritualidade pousa em nossa alma como um pássaro branco. Trata-se de uma alma semi-humana e chama-se desejo-pensamento.
A serpente constitui uma alma telúrica, semidemoníaca, um espírito relacionado com o espírito dos mortos. Com o espírito dos mortos, a serpente penetra vários objetos terrenos. Ela também instila temor de si no coração dos homens e inflama- lhes o desejo. A serpente geralmente tem caráter feminino e busca a companhia dos mortos. Ela se associa aos mortos presos à terra que não encontraram o caminho pelo qual se passa ao estado de solidão. A serpente é uma prostituta que se consorcia com o demónio e maus espíritos; ela é um espírito tirano e atormentador, sempre tentando as pessoas a cultivar a pior espécie de companhia.
O pássaro branco representa a alma semicelestial do homem. Ele vive com a mãe, descendo ocasionalmente da morada materna. O pássaro é masculino e chama-se pensamento efetivo. Ele é casto e solitário, um mensageiro da mãe. Voa alto sobre a terra. Comanda a solidão. Traz mensagens de longe, daqueles que nos antecederam na partida, daqueles que alcançaram a perfeição. Leva nossas palavras até a mãe. A mãe intercede e adverte, mas não possui poderes contra os deuses. Ela é um veículo do sol.
A serpente desce às profundezas e, com sua astúcia, ao mesmo tempo paralisa e estimula o demónio fálico. Ela traz das profundezas os pensamentos mais ardilosos do demónio telúrico; pensamentos que rastejam por todas as passagens e tornam-se saturados de desejo. Embora não deseje sê-lo, ela nós é útil. A serpente escapa ao nosso alcance, nós a perseguimos, e assim ela nos mostra o caminho, o qual, com nossa limitada capacidade humana, não poderíamos encontrar.
Os mortos ergueram o olhar com desprezo e disseram: - Cessa de falar-nos sobre deuses, demónios e almas. Sabemos de tudo isso em essência há muito tempo!»


Carl Gustav Jung, "Sete Sermões aos Mortos", 1916

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