sexta-feira, 21 de setembro de 2012

o Mal-estar da Civilização #32


«No asco aos animais, a sensação dominante é o medo de, pelo contacto, ser reconhecido por eles. Aquilo que ao homem profundamente repugna é a consciência obscura de que em si há algo vivo que é tão pouco diferente ao animal asqueroso, que a pessoa poderia vir a ser reconhecida por ele. Todo o asco é primordialmente um asco ao contacto. E o próprio autodomínio só ultrapassa este sentimento com movimentos repentinos e excessivos: aquilo que provoca o asco é vigorosamente enlaçado, devorado, enquanto a zona de delicado contacto epidérmico permanece tabu. Só assim se pode explicar o paradoxo do imperativo moral que exige do homem, a um só tempo, a superação e o mais subtil desenvolvimento do sentimento de repulsa. Ele não pode negar o parentesco animal com a criatura, a cuja alusão responde com a repulsa: tem de tornar-se senhor dela.»

Walter Benjamin, "Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por Volta de 1900", Relógio D'Água, 1992

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