segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

a vida não é um sonho #7



«Ela falava, falava, falava. Falava pelos cotovelos. Eu sou a dona da casa. E essa empregada gorda só sabia falar, falar, falar. Onde quer que eu estivesse, lá estava ela, chegava e começava a falar. De tudo e de nada, disto e daquilo, para ela tanto fazia. Despedi-la por causa disso? Teria que lhe dar três meses de indeminização. Ainda por cima, seria bem capaz de me rogar uma praga. Até na casa de banho: e para aqui e para acolá, e frito e cozido. Espetei-lhe o garfo na boca para que se calasse. Não morreu por causa disso, mas por já não poder falar: as palavras explodiram no interior.»

Max Aub, "Crimes eXemplares", Antígona, 2001

1 comentário:

Bruno Porta Nova disse...

Este parágrafo é-me nostálgico. Recordo-me da curta-metragem portuguesa(Menos Nove)feita em 97. Genial. O mais genial ainda é a seguinte frase que se destaca de tudo o resto:"As palavras explodiram no interior."