terça-feira, 27 de outubro de 2009

o Mal-estar da Civilização #8



«Na hora de mais frequência nas ruas, quando a espessa malha da multidão se cruza evitando-se habilidosamente, incansavelmente artista em não chocar os seus guarda-chuvas, os seus carregos de caixas de cartão vazias, podemos meditar na desordem como numa consequência do ritmo de parentesco. Vemos de súbito toda essa gente, vizinha no seu tempo, nos seus desejos, na sua cidade, parecer explodir em direcções diferentes, procurando ignorar-se e precipitando-se nos intervalos livres de um passeio, duma praça. E se aproximássemos a nossa observação até ao nível das suas opiniões notaríamos que elas dependem mais da oposição ao que lhes é idêntico, do que resultam da lógica dos seus interesses. A desordem é a sensibilidade da limitação.»

Agustina Bessa Luís, "Conversações com Dmitri e outras fantasias", Na Regra do Jogo, 1979

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